segunda-feira, 30 de julho de 2007

O coração sempre arrasa a razão...

Não consigo definir em qual posição ideológica minhas idéias e ações podem estar. Nada à direita ou à esquerda é suficientemente tocante a mim, para dizer: isso, estou aqui.

Norberto Bobbio, pensador italiano, definiu, em linhas gerais, que esquerda será sempre aquele a favor de mudanças para uma sociedade mais equilibrada, justa. Do contrário, a direita representa os interessados em nenhuma mudança, conservadores. Óbvio, é muito controverso tal conceito. Mas se me valesse dele, poderia considerar-me de esquerda. No entanto, os esquerdistas, ao menos os ortodoxos, muitas vezes me consideram liberal, ou de direita, pois não concordo com vários de seus métodos, principalmente o de acreditar que a liberdade pode ser relativizada em prol de suposta igualdade.

Bem, isso não vem ao caso agora. Me considero amante incondicional da liberdade baseada no respeito ao outro. Poderia me considerar um anarquista, um pragmático ou mesmo um liberal-esquerdista, seja lá o que for isto. Porém deixemos isso para lá. Volto ao cerne do que me motivou postar está opinião: como a razão pode ser defenestrada por nossas paixões.

Costumo ler o jornalista Reinaldo Azevedo, muito odiado pela esquerda e amado por grande parcela da direita. Acho-o um bom cronista e comentarista político, com uma bagagem intelectual que nada deixa a dever a muitos doutores de academia ou pensadores. Independente de seus catolicismo, conservadorismo – muitas vezes admitido a contra-gosto – e seu tucanismo – menos reconhecido ainda –, creio valer a pena lê-lo. Contudo, há algo em Azevedo que o faz ficar sobre a tênue linha contígua à razão e à paixão. Sua aversão absurda a Lula e ao petismo, quase invariavelmente o faz lançar-se sobre a segunda.

Passeando pela internet, vejo no blog do Janer Cristaldo um comentário sobre as últimas notícias da imprensa, mais precisamente acerca da última matéria da revista Veja quanto ao desastre de Congonhas. Aventa-se a possibilidade de o acidente ter sido provocado por erro humano e não por causa da pista irregular, entre outros fatores, o que jogaria sobre os ombros do governo a culpa do ocorrido. Diversos setores da imprensa, gostemos ou não, trabalhou com esta possibilidade.

Reinaldo Azevedo, também contratado de Veja, por mais que tenha querido valer-se da lógica, desde o início preferiu atribuir ao governo a culpa de todos os males – ao meu ver, um erro. Claro, mesmo confirmando-se a suspeita de erro humano, ainda assim o governo tem sua parcela de culpa por ter insistido em Congonhas como o principal aeroporto do país. Porém, não é o único responsável pela tragédia.

O que Janer chama a atenção, é o esforço de Reinaldo em explicar tudo o que disse, não se desdizendo, agora, ante uma possível amenização de culpa do governo. Parece que a razão do jornalista de Veja chocou-se com sua emoção e caiu estrebuchada.

Talvez, se Azevedo fosse um pouco menos sectário em suas convicções e mais disposto a aceitar todas as possibilidades – e com elas trabalhar menos apaixonadamente–, não precisasse ficar nesse momento esforçando-se para defender uma idéia claramente comprometida com seu proselitismo político-ideológico, oferecendo carga aos seus adversários de pensamento.

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