sábado, 28 de julho de 2007

Também quero verba! Vou montar uma "zona" faraônica e democrática...

Cultura, ah, a cultura... No Brasil vivem tentando "democratizá-la", dar acesso ao povo para essa tal de cultura. Os métodos são variados e na cabeça de camarão de nossos governantes, os melhores.

Para tanto temos diversas leis para fomentar o investimento em cinema, show, teatro e tudo quanto mais puder enquadrar-se no quesito cultura. No entanto, pergunto-me o quanto realmente é eficaz o modelo de incentivo à cultura no país hoje em dia.

Por exemplo: há poucos dias a cantora Vanessa da Mata conseguiu captar R$ 900 mil para gravar um dvd de divulgação de seu último trabalho, "Sim". Nada tenho contra a artista, muito pelo contrário. Sou fã de muitas canções suas, acho-a ótima intérprete, responsável por algumas das melhores músicas produzidas pela nova safra de artistas da MPB e seu cd recente também é muito agradável. Não obstante, recuso-me a apoiar esta iniciativa.

A justificativa da Secretaria de Audiovisual foi esta:

"A Secretaria do Audiovisual, vinculada ao Minc (que determina quem merece o benefício), justificou a autorização do projeto. Para a secretaria, tudo está dentro da legislação. "Saliento que o objetivo apresentado pelo proponente foi a gravação de um DVD para fomentar a nova geração da música popular brasileira", diz a secretária substituta do audiovisual, Tania Leite.
Ela ressalta que o show (aquele em que será feita a gravação) será gratuito. Diz ainda que "serão distribuídos gratuitamente 3.500 exemplares dos 25 mil que serão produzidos". Não foi informado quantos desses exemplares "gratuitos" serão destinados a divulgação em rádios, TVs, sites etc."

Vamos ser claros: isto é um esculacho! Pelamordejah!, Da Mata é contratada da Sony e seu último trabalho está vendendo relativamente bem - 27 mil cópias em dois meses. Incentivar novos talentos até se justificaria, caso fosse uma artista independente e olhe lá. Afinal, um dos maiores sucessos do Brasil é o Calypso, da gritadora Joelma e do indefectível Chimbinha. Agora oferecer incentivo para quem investir 900 mil pratas na produção do dvd e justificar que o show será gratuito e 3.500 cópias serão distribuídas, acreditando estar fazendo um bem cultural ao país é bobagem tosca. Despautério total!

Teremos de refundar o país, sobre bases que valorizem a autonomia do cidadão brasileiro. É preciso acabar com essa dependência eterna do Estado para tudo. Os serviços do Estado deveriam ser paliativos, para uma fase de transição na vida dos despossuídos – ou ao menos para uma grande parte. E não muletas eternas, que muitas vezes servem mesmo é para os que delas não necessitam.

E não é a primeira vez que a discussão em torno do "fomento" cultural vem à tona. Neste mesmo ano, foi aprovada a verba para as filmagens do filme sobre a srtª Bruna Surfistinha, aquela que dava e escrevia em seu blog na internet. Fico a imaginar como se manifesta a riqueza cultural de tal obra para a sociedade. Os valores do ingresso serão simbólicos? A produção será levada aos maiores grotões do país? Qual será o impacto na formação intelectual do povo, enriquecendo assim sua cultura?

De minha parte, só tenho uma opinião: o modelo de fomento para o despertar cultural no Brasil já nasceu falido. Ora, o maior interesse de tais ações seria o despertar da sociedade para a cultura – e o entendimento desta por parte daquela. De que adianta dar incentivos a produções de peças teatrais, por exemplo, se estas não podem ser acessíveis a toda sociedade? E ainda que sejam, alguém crê mesmo que a população mais simples lotará teatros para assistir uma montagem de Shakespeare, sem o devido preparo intelectual? Faça-me o favor!

Nossos governantes, cabeças de pudim tem de entender que uma política para despertar o interesse pela cultura na sociedade é muito maior do que incentivar produções. Tem de ser trabalhada num âmbito muito maior e a longo prazo. Claro, não estou aqui a pregar por criações de centros para a formação de um país de críticos de artes ou intelectuais populares. Mas numa nação onde o povo sempre foi massacrado por uma minoria, falar em cultura para todos, da forma como está aí hoje, é besteira de marca maior. Nunca vai elevar nível cultural de ninguém.

Outro fator absurdo nessa história toda, é o corporativismo da classe artística. Ano passado, quando foi anunciado que os investidores em esportes poderiam também ser agraciados com benesses oficiais, artistas de todos os matizes tiveram um acesso. Alegaram que poderiam ser preteridos no momento da escolha entre eles e os esportistas.

No meio dessa zona toda, fico com Raul: “eu também vou reclamar!”. Vou entrar com um pedido de captação de verbas para uma grande obra, visando a elevação da cultura sexual de nosso povo. Quero dinheiro para criar uma “zona” piramidal, onde serão oferecidos “serviços” para toda a sociedade. Educação sexual interativa, além de isenções para os desvalidos. Muita leitura de Sade e similares.

Será a coroação do bacanal no país, que hoje exclui os menos favorecidos. Todo mundo fará parte da orgia reinante no Brasil. Claro, tudo em nome da cultura.

Nenhum comentário:

Powered By Blogger