sábado, 7 de julho de 2007

Sobre prostitutas e imprensa

Definitivamente, certas coisas têm de passar por processos lastimáveis para serem reveladas aos olhos de todos e causar alguma indignação - ainda que se tenha conhecimento delas.
Basta voltar-se para o caso do espancamento recente da empregada doméstica Sirley. Quando foram saber junto aos covardes o motivo do ato torpe, os incautos não tiveram dúvidas: pensaram estar surrando uma prostituta. Claro, se fosse uma não haveria problema. Afinal, estariam "limpando" a cidade.
Na esteira dos acontecimentos, descobriu-se que as autoridades policiais eram sabedoras de casos semelhantes ao de Sirley envolvendo prostitutas. Qual foi a medida tomada? Analisando as palavras de um delegado numa edição do Jornal Nacional, efetivamente nenhuma. Ora, e por que deveria? Enfim, eram prostitutas. Uma ralé sem importância na sociedade. Claro, não para os jovens ou pais de família frequentadores de boates e apreciadores dos préstimos da categoria.
Igualmente, até o fato com a doméstica, praticamente não se via nada a respeito do espancamento de prostitutas na mídia. Quando muito, um depoimento espontâneo dentro de alguma reportagem especial, focando outros aspectos da atividade das trabalhadoras da noite ou escândalos ligados a algum personagem famoso.
Contudo, algo mudou depois da agressão à Sirley. Quase semanalmente ouve-se notícias sobre atos hostis contra garotas de programa. A imprensa foi às ruas ouvi-las e revelar o que passam madrugada afora. Além dos abusos por parte de clientes que acreditam estar ante um ser sem nenhuma humanidade e merecedor de respeito, muitas são vítimas de agressões pura e simples como a praticada pelos rapazes de classe média contra Sirley.
Não creio que essa cobertura ao sofrimento das prostitutas dure por muito tempo. Tende a ser deixado de lado novamente, até o surgimento de uma nova Sirley. São os valores seletivos à vida humana.

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