segunda-feira, 2 de julho de 2007

Sobre loucura, fanatismo religioso, coletivos e mp3

Sou usuário de coletivos. Praticamente todos os dias passo algo entre duas ou três horas dentro de ônibus. De casa para o serviço, deste para universidade, desta para um terminal, deste para casa. Confesso ser um tédio absoluto.
No entanto, pior do que perder horas de sua vida dentro dos coletivos, é ter de suportar certos tipos encontrados em seus interiores regularmente. A fauna de indesejados companheiros passageiros é diversificada. Porém, uma das espécies mais destacadas e com a qual estou a trombar quase por três vezes na semana atualmente, é a de um híbrido entre louco e fanático religioso. Simplesmente um chute em meio ao escroto!
Em seu “Dicionário Filosófico” Voltaire expõe suas definições para ambas condições. O louco seria alguém em um estado misterioso – pensa como qualquer um outro, mas suas idéias estão em dissonância com as de uma pessoa considerada normal. Já o fanático religioso seria um ser vítima de um cérebro gangrenado, disposto a tudo para impor sua visão de mundo. Logo, a soma desses dois fatores nunca resulta em algo prestável.
Como no caso do Brasil os malucos religiosos não aderiram ao insólito hábito de explodirem-se levando consigo incautos ao seu redor, proporcionam outro efeito colateral de suas ações: aborrecer os outros. Seja na praça, no coletivo ou em qualquer outro local, eles não medem esforços.
Na esperança de “salvar” ovelhas desgarradas, os loucos pregadores de coletivos põem-se a encher os nossos ouvidos com suas admoestações e promessas de vida eterna – em caso de abandono da esbórnia na qual porventura você estiver atolado.
Como disse, tenho esbarrado em um espécime raro desses algumas vezes na semana. Tanto pela manhã, como quando não vou para a universidade, lá está o maluco pregando dentro do ônibus. Com um estilo insólito de discurso e um olhar estrábico, o companheiro indesejado deita falação cheia de ameaças ao fogo eterno, caso você não aceite mudar de vida e ir para os braços de Jesus. Definitivamente, ir para o paraíso e dividir eternamente espaço com um chato como aquele, é melhor ficar fora.
Além de seu estilo tragicômico, ele deu para ser agressivo em seus últimos e repetitivos sermões. Quando menos se espera, solta um grito e lança o olhar cruzado de forma ameaçadora. A maioria dos passageiros, acaba por relevar e se diverte quando um ou outro solta um gracejo ante os arroubos do intrépido pregador. Mas o cidadão é irritante.
De minha parte, sou completamente contra essas manifestações religiosas em espaço público, obrigando a quem não tem o mínimo interesse ou simplesmente não compartilha da mesma fé religiosa do orador, a ouvir discursos após um dia de labuta intenso. Caso você queira iniciar o dia fazendo a leitura de seu jornal ou mesmo de um livro no coletivo, não pode. Já pensou se os representantes de religiões afros ou de Hare Krishna quisessem expor suas preferências igualmente em locais públicos? Haja ouvido!
Ah, sim. Onde encaixa-se o mp3 nesta história? Ora, é ele o amenizador de minhas agruras coletivas. Não raro, quando o passageiro pregador se põe a arte do enfado, eu logo largo meu livro ou revista e ligo o mp3. Somente não posso esquecer de carregar as pilhas reservas nessas horas...

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