domingo, 29 de novembro de 2009

Política praticada no fundo do poço

O governador do Distrito Federal José Roberto Arruda está encalacrado. Pegaram-no com a mão massa, como se pode ver nesse vídeo. Ele faz parte de uma série de vídeos e escutas sobre transações ilegais envolvendo o governador e membros de sua equipe. Arruda pertence ao DEM, partido de oposição e que vive cobrando ética do governo – mesmo já tendo em seus quadros um dos últimos “coronéis” da política brasileira, Antonio Carlos Magalhães.

Uma das desculpas, quero dizer, explicações para a grana recebida foi dada pelo advogado do governador: compra de panetone para os pobres! A política brasileira praticada nos poços enlameados pelo realismo é algo surreal: corrupto entregue pelo irmão, com direito a acusação de consumo de cocaína via reto – é sério! –, é compra de deputados para aprovar reeleição, é presidente que não sabe das práticas de corrupção de seus homens de confiança, é dólar na cueca, etc, etc. Agora, temos a distribuição de panetones para os pobres com dinheiro suspeito. Qual será o próximo ato?

sábado, 28 de novembro de 2009

Sensacionalismo e politicagem na grande imprensa

“Aquele que deseja a salvação da própria alma

ou de almas alheias deve, portanto, evitar os

caminhos da política que, por vocação, procura

realizar tarefas muito diferentes (...).

O gênio ou demônio da política vive em estado de

tensão extrema com o Deus do amor e também com

o Deus dos cristãos (...).A qualquer momento

essa tensão pode explodir em conflito insolúvel.”

Max Weber, “Ciência e Política: duas vocações”


Escrevo no sábado, 28/10/2009, um dia após o estranho artigo “Os Filhos do Brasil”, de autoria do cientista político César Benjamin, ter sido publicado no Jornal Folha de São Paulo. Numa atitude no mínimo temerária, César, histórico militante esquerdista e também fundador do Partido dos Trabalhadores, resolveu trazer ao conhecimento de todos uma história repulsiva: o presidente Lula, então candidato nas presidenciáveis de 1994, num bate-papo durante o almoço no local onde se reuniam alguns envolvidos na campanha do petista, teria dito a César e outros presentes que tentou ganhar no grito, digamos assim, favores sexuais de um jovem militante enquanto esteve preso nos 31 dias que lhe renderam a tal indenização mensal por perseguição política, via bolsa ditadura como diria Élio Gaspari. Ainda segundo o cientista político, o jovem respondeu às investidas de Lula com socos e cotoveladas.


Não é preciso ser grande entendedor de política para saber como a repercussão da suposta tentativa de violação sexual ao jovem explodiu feito uma bomba, ao menos na internet, nos meios onde o debate político e a disputa ideológica são fortes. Os ânimos ficaram acirrados. Luiz Carlos Azenha, jornalista da Record e blogueiro do Viomundo, taxou de cafajeste não somente César Benjamin; Otávio Frias Filho recebeu o mesmo tratamento, além de ser acusado de parcial e covarde quanto a não assumir suas preferências políticas. O blogueiro Eduardo Guimarães publicou um texto defendendo o presidente e conclamou um protesto contra a Folha. Vai, nem que seja só. Luis Nassif consultou um dos delegados responsáveis por vigiar Lula naqueles dias, Armando Panichi Filho, que disse nada saber sobre a suposta investida, além de publicar uma nota do publicitário Paulo de Tarso Santos, um dos presentes na ocasião, esclarecendo que o almoço aconteceu, mas diz não lembrar-se da presença de César e, menos ainda, da conversa.


Por outro lado, o jornalista e blogueiro da revista Veja Reinaldo Azevedo, fez algumas considerações sobre o caso e em uma das postagens comentou sobre a mesma nota do publicitário. Entendeu ser dúbia a posição de Paulo, além de chamar a atenção para o fato de que a agência do publicitário é uma das maiores recebedoras de verbas do governo. Da forma como Reinaldo trata o assunto, deve considerar fato consumado a história de Lula e o jovem militante.


No entanto, o que soou como novidade para alguns dos os principais blogueiros do país, já foi notícia há exato um mês (como apontei, escrevo no dia 28/11), no blog do filósofo Paulo Ghiraldelli Jr., tratando o caso bem ao seu libidinoso estilo. Na ocasião, o filósofo afirmou que um conhecido jornalista do Estadão ouviu de um ex-petista radical, provavelmente Benjamin, que Lula tinha alcançado o seu intento. Em seu artigo, digamos, erótico-filosófico do dia 27/11, Paulo já trata o assunto de forma hipotética. Não houve repercussão anteriormente por ser o blog do Ghiraldelli pouco ou nada badalado.


O governo, por intermédio de seu assessor Gilberto Carvalho, disse ser coisa de psicopata e que não responderá as acusações. Porém, deveria. Afinal trata-se de uma acusação grave. Testemunhas para desmentir não faltarão. O cineasta Silvio Tendler afirmou em entrevista para o Terra Magazine ter estado no dia da conversa. Sim, ela aconteceu e, segundo ele, nada mais foi que uma piada do presidente, daquelas contadas em “rodas de homens”. Também encontraram o suposto jovem atacado por Lula. Ele nada comprova sobre o assunto, conforme nota da revista Veja.


Pelo que percebo até o momento, esta é uma discussão restrita à classe média, leitores da grande imprensa, e à blogsfera voltada para assuntos políticos e militantes. A grande massa, audiência do Jornal Nacional e congêneres, esta ignorando o fato. E pela “consistência” das acusações de César, assim permanecerá.


Não nutro simpatia por Lula. Na realidade, por nenhum político. Os tolero por ser do jogo democrático. Porém, por mais tentador que seja o diabo político, o combate na arena política deve ser mantido ao menos fora do lodaçal. Não foi o que fez a Folha de São Paulo, ao destrambelhadamente dar eco a uma acusação sem consistência e vil. Cede espaço para um artigo que poderia concentrar-se na crítica à peça de publicidade que é o tal filme sobre parte da vida de Lula. Mas preferiu o sensacionalismo digno dos mais chulos buracos de fofoca que pululam os já infames dias em curso. Na esperança de quê?


Se a intenção do jornal era divulgar uma notícia dessa natureza, menos desastroso seria ter feito uma reportagem, ouvindo as partes envolvidas. Mas preferiu o estilo que sustenta os partidários do conceito de imprensa oficial do golpe. A atuação de grande parte da imprensa brasileira não é golpista. É patética, chegada historicamente à politicagem.

Lula, o Alcebíades do ABC?

Ontem surgiu uma polêmica envolvendo o presidente Lula: um ex- companheiro, César Benjamin, escreveu um artigo no qual acusa o presidente de ter tentado violar sexualmente um rapaz, quando esteve preso por 30 dias nos estertores da ditadura. Poderia ser apenas mais uma bobagem se não tivesse sido publicado na Folha de São Paulo, um dos maiores jornais do Brasil.

Novidade não era. Paulo Ghiraldeli, exatamente há um mês, dava a sua versão. Mais escrachada, porém sem alarde. Não era uma canal de informação badalado. Lula ficou como um Alcebíades – do ABC – assediando Sócrates. Sem a sutileza presente no “Banquete”.

Voltarei ao assunto, um tanto quanto espinhoso.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Discutindo a imprensa no Observatório

Esta semana exponho minha opinião no Observatório da Imprensa sobre um vício que acomete o debate sobre a atuação jornalística: a teoria da conspiração. Numa contenda viciada por ideologia, às vezes perde-se o foco do que realmente interessa e parte-se para a dicotomia simplória de bem contra o mal. E as coisas não mostram-se tão fáceis assim.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

FHC inspirou-se tanto assim nos clássicos?

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente do Brasil, é, antes de tudo, um intelectual. Bom ou mau, um sociólogo com bagagem e história no Brasil. FHC teve um filho fora do casamento com uma repórter da Rede Globo. O fato, muito escarafunchado pela oposição e imprensa alternativa, nunca foi exposto plenamente. Esta semana tomamos conhecimento que FHC resolveu assumir legalmente o filho, atualmente com 18 anos de idade.

Alguns opositores do ex-presidente tentam explorar politicamente o assunto de uma forma ou de outra. Ético ou não, faz parte do jogo. Ademais, mesmo sem divulgação maciça os envolvidos com o mundo da política – seja na prática ou apenas acompanhando-a –, tinham certo conhecimento do filho pouco conhecido do sociólogo.

Porém na vida política a grande roda nunca pára. Surge uma notícia, que se for verdadeira, FHC fornecerá artilharia para seus opositores. O jornalista Cláudio Humberto noticia que o Presidente Sociólogo teve outro filho fora do casamento. E com sua empregada! Nas palavras do próprio jornalista, o mais novo rebento bastardo de FHC nasceu de uma relação “com sua empregada Maria Helena, uma negra que o impressionava pela formosura. Leonardo é muito parecido com o pai.” Seria o “príncipe dos sociólogos” também Dom Juan da intelectualidade?

Não sei o quanto da história é real. Mas se for, soará algo irônico, antes de todas as outras implicações. Por quê? Ora, FHC, como bom sociólogo foi leitor dedicado de Marx e Gilberto Freyre. O intelectual alemão, com toda a sua dedicação às ciências humanas, encontrou tempo para ser pai de seis filhos com sua esposa Jenny e um com a empregada Helene, não reconhecido pelo alemão. Freyre, entre seus grandes estudos, dedicou-se a pensar o Brasil analisando as relações na Casa Grande e na Senzala nos dias coloniais. Pesquisou até a concupiscência dos senhores de engenho e seus filhos para com as escravas. Teriam sido eles inspiração para FHC?

Talvez agora faça sentido a tal frase na qual FHC disse – e depois desdisse – que tinha um pé na cozinha...


Samba do comuna manco

Durante o intervalo do debate sobre o MST no programa MTV Debate, capitaneado por Lobão, procuro algo em outros canais. Paro na Rede Vida e vejo o presidente do PPS Roberto Freire numa entrevista. O auto intitulado comunista falava sobre a suposta esquerda petista governamental. Se opunha ao Bolsa Família, classificando-o como um programa de transmissão de renda neoliberal e capaz de fomentar o comodismo e a eterna dependência de verba estatal.

O estranho foi a explicação de Freire quando um jornalista lhe indagou se não seria contraditório criticar um programa social do governo petista que tinha sua origem na administração tucana, do PSDB hoje aliado ao PPS de Freire. O comunista não viu contradição em se opor ao PT adepto de políticas sociais clientelistas similares ao PSDB. A propósito, FHC disse esta semana não ver diferenças entre a política econômica de seu governo e o de Lula.

Fico a me perguntar: se PT e PSDB são similares em sua forma de administrar, aproximando-se do neoliberalismo execrado pelo comuna Roberto Freire, que diabos o PPS pretendeu rompendo com petistas e aliando-se com tucanos?

“Cine Lula” dá voto?

“Lula, filho do Brasil”, obra do diretor Fábio Barreto, já teve sua “estreia” para figurões na abertura do 42.º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Nos próximos dias será apresentado, provavelmente, para servidores em sessões especiais. Sua estreia nacional será em 2010, ano eleitoral.

Lula e seus partidários, claro, dizem não se tratar de peça publicitária, propaganda política antes do permitido. Alegam que o presidente não é candidato a nada e o filme é sobre sua vida pessoal, sem alcance à esfera política. O lançamento da obra em ano do pleito é puro acaso. Quem não conhece a essência real da política, engole...

Se dará voto a Dilma Rousseff ou não, somente se saberá após sua exposição em massa. Contudo, querer fazer crer que o filme em nada pode influenciar no processo político pelo simples fato de Lula não disputar o pleito, é brincar com a inteligência alheia.

A capacidade do presidente em transferir votos dependerá quase exclusivamente de Dilma. Se ela transmitir ao eleitorado ser capaz de continuar o “lulismo”, mesmo sem carisma, poderá valer-se de tudo o que orbita Lula. E o que dele emana. Até filmes.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Curso de “bronha” espanhol

Morremos sem perceber a loucura do mundo em sua plenitude. A mais nova é sobre um tal curso de masturbação ou a boa e velha “bronha”, para ficarmos numa gíria secular – creio eu. As lições masturbatórias estão sendo introduzidas – ops! – na província espanhola – hum! – de Extremaduda – hã!? É sério. Basta clicar no link para tomar conhecimento deste fato inédito.

Inédito porque o curso, nomeado “O prazer está em suas mãos”, não se limita ao campo teórico; seu conteúdo programático visa também à prática – afinal, como demonstrar a milenar “técnica” masturbatória? Será oferecido como matéria facultativa nas escolas da famigerada Extremadura.

Bem, longe de mim fanicos de conservadorismo. No entanto, creio que certos responsáveis por pensar a educação e o comportamento veem o mundo como uma cobaia para testar suas taras e alternativas de sociedade. Pô!, valer-se de recursos do Estado para “ensinar” à garotada a “socar” uma ou a “siriricar” é de uma tara sem limites.

A popular “punheta” ou “siririca” é um ato natural. Inevitavelmente todo ser humano experimentará tal sensação. Ninguém precisa do Estado para aprender ato tão espontâneo. É um momento de auto-descoberta, conhecimento de si mesmo, derrubada de barreiras impostas por costumes e tradições.

Vá lá, séries de cursos, seminários e palestras sobre o assunto, visando à quebra de paradigmas censórios, nos limites do bom senso e ministrados por profissionais comprometidos com a educação, é animador. Porém, chegar ao cúmulo de oferecer “aulas técnicas” de masturbação, como exposto na matéria, é uma patifaria bem ao gosto dos tempos em vigor.

Fico a imaginar como seriam as tais “aulas técnicas”, até com auxílio de acessórios. Professorinhas meterão – opa! – a mão na massa e na ferramenta dos jovens? Aí vira pedofilia!

PS: não tem a ver com o assunto, mas como a nossa imprensa produz informação como se tivesse numa indústria fabricando um bem de consumo em massa. Quem acessa os links do g1, do ultimosegundo, do estadão, para ficar só em alguns dos mais conhecidos, vai ler exatamente a mesma coisa a respeito do assunto aqui tratado, cedida pelo site da BBC, como demonstrei no início deste comentário. Ninguém busca outras fontes de informações.

A imprensa aumenta o poder do "apagão"

Não sou daqueles que embarcam em teorias conspiratórias. No Brasil, vivemos um momento, principalmente no governo Lula, em que quase tudo que sai na chamada grande imprensa, é motivo para ligar o "alerta golpe" por parte da esquerda militante, ostensiva ou velada. Qualquer crítica torna-se ameaça de golpe. É um comportamento que acaba polarizando o debate. De um lado bons, de outro maus. A discussão termina por ficar contaminada.

Mas a imprensa também contribui para as fantasias da ala paranóica da esquerda. Com o tal apagão de ontem, podemos perceber o quanto de material é oferecido à crítica - e neste caso, esta pode ser feita com razão. Os jornais da Globo, por exemplo, só falam nisso. Na edição do Jornal da Globo, agora a pouco, vejo os repórteres colhendo depoimentos na rua para saber o que as pessoas estavam fazendo no momento do blecaute, o que sentiram, o tamanho do susto. Foram saber até o que aconteceu com o cãozinho num pet shop, que tomava um banho quente quando as trevas tomaram o país. Teve de se contentar com a água fria. Até parece que é a primeira vez que ficamos no escuro...

Isso sem falar em alguns membros da oposição, desejosos em ouvir a ministra da Casa Civil sobre o ocorrido.

Os fatos devem ser, sim, apurados. Porém, deu para sentir uma busca tresloucada da grande imprensa por mostrar ao mundo que o culpado foi o governo Lula. Parece faltar um senso de medida e objetividade para tratar da questão, optando-se pelo catastrofismo e as trevas. Tal opção em nada ajuda ao entendimento do caso. Apenas produz matéria-prima, legítima no caso abordado, para paranóicos e oportunistas políticos.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Opinião no Observatório da Imprensa

Outra vez mais resolvi participar do debate num canal apropriado como o Observatório da Imprensa. Numa versão com título formal, foram publicadas minhas considerações sobre o caso da agora ex-expulsão da aluna da uniban, as mesmas que expus por aqui ontem.

Femme Fatale acidental golpeia a estultice da Uniban

Após o conselho da uniban (sic) decidir expulsar a estudante Geisy Arruda por causa de um vestido curto vermelho, o reitor da “universidade” fez, com imenso atraso, o que deveria ter sido feito desde o início do imbróglio: pensou. E ao utilizar as faculdades mentais definitivamente, reverteu o ato do conselho de sua universidade. Logo, a estudante fica.

A decisão do reitor pouco deve ter a ver com um exame profundo de consciência; antes, face aos dias de comércio em estado bruto da educação, pode ter sido a medida mais indicada a partir de uma lógica meramente utilitária. Afinal, mesmo para a uniban, que parece ser uma universidade onde se produz tudo, menos a reflexão e o pensamento crítico nos limites da democracia, ficar em evidência pelo aspecto negativo, não deve ser uma boa – para seus negócios.

De qualquer maneira, o estrago já foi feito. A instituição foi maculada pela sucessão de flerte e complacência com o autoritarismo e a intolerância. Desde o princípio, face a bestialidade da multidão enfurecida, a universidade mostrou-se inclinada a culpar exclusivamente a moça e seu vestido curto.

Tal qual o povo contra Larry Flynt, resolveu iniciar uma cruzada moralista e hipócrita para criminalizar a jovem. Foi tragada pelo bom senso. Agora colha os frutos amargos de sua mal fadada colheita. Ou talvez não: em tempos da indústria de diplomas do ensino superior, em um intervalo de curto período é bem provável que todos tenham esquecido o fato. Afinal, como bem disse o filósofo alemão nos idos do século XIX, “a multidão tem olhos e ouvidos, não mais que isso; menos ainda juízo e memória”.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

De “volta” para casa

Foram 11 dias de tensão e estafa mental. Após um parto sob situação de risco, Tayler foi internado numa UTI e lá estivemos junto com ele em todos os momentos possíveis. Sempre desejando a sua recuperação e alimentando-o com nosso amor e afeto. Foi cuidado por profissionais dedicados e competentes. Ontem “voltou” para casa.

Nada como tê-lo ao alcance de nossos olhos e ouvidos. Que chore, esperneie no momento que quiser. Estaremos sempre próximos. Na tempestade ou na calmaria.

Dama de vermelho é expulsa de “universidade”

Quem esteve atento aos noticiários nos últimos dias, tomou conhecimento do caso da jovem universitária Geisy Arruda que foi hostilizada por quase toda a sua instituição de ensino ao ter comparecido à aula com um sensual vestido vermelho. Diante de uma reação digna do mais inominável Estado teológico, a jovem foi obrigada a sair escoltada pela polícia.

Muitas foram as especulações sobre o acontecimento. Psicólogos, sociólogos, entre outros, tentaram explicar o sentido da ação desmedida pela multidão de estudantes. Alguns, em programas de auditórios, chegaram a uma conclusão horripilante de que a culpa do fato foi da universitária. Celerados autores de crimes sexuais já podem buscar na universidade sua linha de defesa: “Meritíssimo, que culpa tenho eu por violentar a moça? Avisei-a várias vezes que não me provocasse com seu andar insinuante e suas roupas provocantes. Ela procurou, tal como a dama de vermelho da Uniban”

Talvez, estimuladas por raciocínio semelhante, as autoridades responsáveis pela instituição resolveram expulsar a aluna. Ela, e tão somente ela, fora o epicentro da manifestação fascista oculta naqueles que deveriam servir de exemplo para a sociedade e representá-la nos mais diversos setores como membros de uma elite capaz de conduzi-la em meio às trevas do pensamento obtuso.

A expulsão de Geisy, para os próceres da Uniban, foi necessária haja vista seu comportamento ferir os princípios éticos, morais e dignos da academia. Ademais, ela já teria sido advertida por comportar-se inadequadamente outras vezes. Contra tão vil procedimento, a “democrática” massa daquela universidade, em seu apego pelo mais sadio dos ambientes, somente reagiu para defendê-la. Esta é a “lógica” dos responsáveis pelo equilíbrio do espaço da Uniban.

A defesa da ética, da moral e da dignidade da instituição foi feita aos gritos de “puta”, demonstrando o mais alto grau de civilidade dos que deveriam mostrar o quanto é válido estar num ambiente de tolerância e debate acerca da sociedade. E com aval das autoridades acadêmicas da Uniban. Talvez estas ainda ofereçam alguma honraria aos autores do ato de defesa do ambiente universitário conspurcado pela dama de vermelho.

Numa mórbida coincidência, quase concomitantemente ao ocorrido naquela chamada universidade, tomamos conhecimento de que o Brasil despenca no ranking responsável por medir a desigualdade entre homens e mulheres no mundo. Esse é o país que pensa na possibilidade de eleger uma mulher para o cargo de presidente da República.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Lula, a entidade inatingível

É incrível a dominação carismática exercida por Lula sobre quase todos nesse país. Vivemos num momento em que qualquer crítica ao presidente, por menor que seja, toma dimensões gigantescas. Se for reverberada por formadores de opiniões indignados com o “preconceito” contra o presidente, aí vira desastre.

No viomundo.com, o jornalista Luiz Carlos Azenha se mostra indignado com a publicação de livros sobre Lula e suas “iluminadas” sacadas verbais. Um de autoria de Ali Kamel, jornalista global, e outro de Marcelo Tas, humorista e apresentador na rede Bandeirantes. O presidente parece tomar ares de entidade sagrada a ponto de qualquer observação crítica transformar-se em heresia.

Azenha é um cara que gosta do debate. Contudo parece ter optado por participar da tropa de choque virtual em prol de Lula, que se levanta contra qualquer observação contrária à majestade, às vezes de forma quase juvenil. Será que ele se indignaria contra o trabalho caústico e impagável de Cony e Angeli, acerca dos anos de FHC, publicado anos atrás?

O problema com intelectuais ou formadores de opinião quando se rendem a esse ou aquele líder, é que se tornam escravos de suas preferências ideológicas. E começam a oferecer visões do mundo de forma distorcida.

Tayler avançando

Nada como cada dia terminado, cada momento manifestando-se em seu devido tempo. Ontem, ao sair da UTI infantil, sentia-se um pouco mais leve e menos tenso. Na realidade, nos últimos dias tenho me sentido assim. Minuto a minuto de dúvidas e certa apreensão passados até chegar lá e ver meu filho, são esquecidos após vê-lo e ouvir a equipe responsável pela saúde dele e de seus companheirinhos.

Tayler tem apresentado evolução a cada dia, vencendo a tempestade de forma indiferente à gravidade de sua situação ao nascer no oitavo mês de gestação e por conta de uma centralização de fluxo.

Se no terceiro dia ousou retirar um tubo de respiração do nariz com sua pequena mãozinha, mostrando a médica que ele poderia respirar por si próprio, esta semana já seu organismo vem mostrando que não chegou até aqui para perder: vem recebendo as primeiras doses de leite, aumentadas gradualmente e ontem já experimentadas direto de um copinho – no início é feita por seringas; também já não recebe banho luz por dois refletores; apenas um.

Ademais, expôs-se descomprometido e com sorrisos inconscientes para fotos, sem as vendas de proteção do banho de luz.

Ainda não tem uma previsão para sair, pois tem de esperar o fim do tratamento com antibióticos contra uma infecção até previsível, haja vista a formação incompleta dos pulmões. Contudo sua superação dia a dia nos enche de alegria e orgulho.

Infelizmente nem tudo é alegria. Um de seus coleguinhas de batalha pela vida partiu. Diante de um quadro gravíssimo e com um problema de coração que só poderia ser enfrentado via intervenção cirúrgica, não resistiu. Lutou o quanto pôde; seus pais estiveram ao seu lado durante todos os momentos. A equipe médica domou a temível dama da foice até o limite. Porém, quisera o destino, Deus, o acaso ou simplesmente a força da natureza a sua volta à mãe terra.

Encontrou um descanso para o seu sofrimento. Não como gostaríamos, mas assim se deu sua breve história. Tomara que tenha deixado um momento sequer de inesquecível lembrança àqueles que o amaram.

Por fim, e apesar de toda a dificuldade, estou imensamente feliz com a primeira semana de vida de Tayler. Nosso amor por ele se expande ao infinito.

domingo, 1 de novembro de 2009

Dias de luta

Sempre tive aversão a hospitais. Por mais que ali se lute pela vida, a atmosfera é densa, pesada. Ver o sofrimento alheio, mesmo que não seja dos nossos, me angustia. Sinto uma impotência indescritível ante um semelhante tendo sua vida tragada, enquanto outros semelhantes combatem para mantê-la.

Mas quisera a vida que eu fosse um dos protagonistas de mais um dos incontáveis dramas da vida justamente no nascimento do meu primeiro filho. É cansativo e duro ter que passar o dia inteiro numa UTI infantil, acompanhando o sofrimento não só do nosso bebê, bem com de outros e seus familiares.

Ontem, Tayler apresentou um quadro estável, apesar de uma infecção oportunista e esperada devido à formação incompleta de seus pequenos pulmões. Vê-lo respirar sem aparelhos, já é um alento. Mas ainda vê-se uma dificuldade para ato tão natural.

Dentro de horas voltarei ao seu campo de batalha – na verdade, nosso campo. Enquanto não chegamos, a mente nos enlouquece com o exercício infinito das possibilidades – nem sempre alvissareiras. O pensamento não sai daquela sala repleta de gente disposta a viver custe o que custar. Pessoinhas lutando como bravos guerreiros por suas vidas, conforme as possibilidades oferecidas pela natureza nesse momento. Pois não há medicina capaz de milagre se a estrutura da molecada não responder e/ou suportar os procedimentos.

Torço por Tayler. Torço por seus companheirinhos nessa luta inglória. A vontade de viver de todos eles é o que nos anima e nos faz pensar que se preciso for descer ao inferno para vermos a luz, o faremos.

O amor nos incita às batalhas, independente de suas dimensões.

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