A esquerda contra a esquerda

Gosto de ler os mais variados sites e autores, independente dos matizes ideológicos. Creio ser o melhor caminho para entender a essência das idéias dos contendores da arena do pensamento que influi diretamente em nossas vidas por meio da política, mídia, entre outros. Apenas ouvir os críticos sobre aqueles e aquilo que não gostamos pode gerar uma visão ainda mais distorcida da realidade.

Lendo o site Fazendo Media, mais especificamente o blog lá instalado a cargo de Marcelo Salles, vejo algo que me causa certa estranheza. Tecendo uma crítica contra um editorial de O Globo sobre desfavelização, em certo momento, Marcelo ataca os que crêem estar na favela a causa de toda a violência da sociedade atual.

Até aí tudo bem. Sempre fui contrário o tal olhar, eivado de preconceito, de que a pobreza e a miséria - presentes em qualquer favela ou periferia do Brasil - são responsáveis pelo estado de violência ao qual nos encontramos e presente no Rio de forma bem mais acentuada. Afinal, se isso fosse verdade, eu não estaria aqui escrevendo. Estaria engrossando um exército de pessoas pobres ou miseráveis, juntamente com todos os habitantes dos bairros da região periférica onde habito, e justificando atos criminosos por causa de condições sociais. E assim seria por todo o país. Com certeza viveríamos em um estado de guerra civil absurdo e olhe lá se o país seria conhecido como o é atualmente.

Pelo contrário. A maioria pobre resiste muito bem ante às privações e até de forma passiva demais ao meu ver. Não estou aqui a pregar a revolta da massa. Penso apenas que a parte mais sofrida da sociedade deveria ter mais zelo por si mesma e botar o dedo na cara de quem merece. No entanto, basta eles - os "politicalhas" - lançarem migalhas que tudo é perdoado e esquecido. Schopenhauer foi muito feliz - infelizmente - em sua máxima sobre o povo, que trago em destaque no canto superior esquerdo do meu blog: tem olhos e ouvidos, não mais que isso.

Acabei por me afastar um pouco do intuito incial dessa postagem, mas retorno. O meu espanto com a fala do Marcelo é que ele faz parte de um matiz da esquerda que normalmente acredita ser a pobreza sob o manto do capitalismo um dos motivos da incursão na criminalidade. Uma idéia muito difundida por uma parte enorme de Cientistas Sociais, Economistas e similares. Contudo, analisar as causas da criminalidade requer considerações que ultrapassam a condição social de cada indivíduo e alcancem várias áreas teóricas.

Por isso, ao chamar de facista a posição potencialmente preconceituosa de O Globo sobre as favelas, Salles acaba por estender a crítica a muitos de seus pares de esquerda, defensores da tese segundo a qual a maioria comete crimes, simplesmente pelo fato de ser pobre e desprovida de bens e serviços decentes.

Flickr agora em português. Você cria, todo mundo vê. Saiba mais.