quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Tiro no “olho” do favelado é refresco. Já no do bacana de Copacabana...

Não sou contra política de repressão ou enérgica no combate ao crime. Para um estudante de Ciências Sociais, isto pode soar como um sacrilégio entre os meus iguais. Porém, peço a palavra sempre em meio à fogueira.
 
Gosto e defendo a liberdade. Mas bem sei o quanto o exercício pleno desta pode ser um problema quando um bando de cabeças de amebas – espécie extremamente comum entre os humanos – não sabe o que fazer com ela. Os efeitos colaterais costumam ser desastrosos para o todo social.
 
No combate ao crime, em especial ao tráfico de drogas, é necessária a repressão. Contudo penso ser o escopo mais amplo que o choque direto. Além do tratamento duro contra o comércio de drogas, faz-se necessário o investimento maciço em políticas públicas voltadas para a saúde, educação e cultura. Apenas chumbo não muda a realidade em setores periféricos da sociedade. Outra coisa é preciso deixar bem clara: ações enérgicas podem exigir o confronto. No entanto não inclui execuções, como tem sido demonstrado por alguns estudos sobre a violência no Rio.
 
Escrevo este texto motivado pelas declarações dadas ontem pelo secretário de Segurança do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame. Segue o pensamento do homem:
 
"Buscá-los (os traficantes) na Zona Sul, no Dona Marta, no Pavão-Pavãozinho, 'eu (polícia) estou muito próximo da população'. É difícil a polícia ali entrar. Porque um tiro em Copacabana é uma coisa, um tiro na Coréia, no Alemão, é outra. E aí?"  
 
Obviamente, depois dessa patacoada ele tentou se redimir dizendo que não é bem assim. Aquela tentativa de sempre tentar remendar algo dilacerado. O estrago já havia sido feito.
 
A violência carioca chega a níveis alarmantes. Reflexo dos anos de descaso para com os centros periféricos. Tenta-se hoje, no governo de Sérgio Cabral, tomar as rédeas pelo imperativo da força, partindo-se para o confronto urbano. Policiais são recebidos a balas e explosivos por traficantes dispostos a defenderem o território que julgam pertencer-lhes. Afinal, enquanto o Estado mantinha-se ocupado deixando a favela à própria sorte, eles "assumiram" o poder.
 
O resultado dessa política unicamente de confronto pode ser desastroso, como o ocorrido recentemente na  favela da Coréia. Entre policiais e traficantes, está a população da favela – que parece não ser população para o secretário. Além da exposição dos agentes do Estado e dos exageros criminosos – executar marginal rendido também  é crime –, vidas como a do garotinho de 4 anos são ceifadas em meio ao horror.
 
Quando os criminosos mudam a estratégia como apontado pelo secretário, deslocando-se para os morros próximos às áreas nobres, percebe-se então como a política adotada pelo governo do Rio é limitada e, ao que parece, exclusivista. O secretário sabe quão custoso pode ser para ele e seu governo um tiro em alguém de Copacabana por causa de ações policiais. Já nos filhos da favela Coréia...
 
Simplesmente exterminar traficantes não resulta na transformação necessária para a sociedade. Existe todo um "exército reserva" disposto a assumir as vagas dos tombados em combate. E com mais ódio como método.
 
Caso não se crie uma política contra os entorpecentes capaz de abrangir os grandes fornecedores de drogas, de inibir e conscientizar o usuário, além dos fatores sociais já expostos anteriormente, as cenas de horror continuarão habitando os nossos lares de uma forma ou de outra. Sejam eles da zona nobre ou da zona pobre.

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