terça-feira, 16 de outubro de 2007

Quando a militância ou seus sintomas podem cegar

Costumo ler assuntos variados, de matizes ideológicos idem. Não sendo grande entusiasta das visões antagônicas majoritárias de esquerda ou direita, não raro provoco confusão em conversas com os ditos esclarecidos ou militantes. Quando me acusam disso ou daquilo, respondo: sou apenas um defensor da liberdade sem concessões. Esta exercida dentro dos parâmetros necessários para o equilíbrio social, obviamente.
 
Hoje abro a caixa de correio eletrônico em meu trabalho e me deparo com um texto enviado pelo Correio Caros Amigos, de um mestrando em administração de empresas focado em representações sociais dos "afro-descendentes". O nome do autor é Luiz Valério P. Trindade. Assunto abordado no texto: a forma como os autores de novelas focam o sempre polêmico envolvimento amoroso de pessoas de classe e cor distintas. Tece suas críticas basicamente em torno das personagens de Lázaro Ramos e Débora Falabella na novela "Duas Caras".
 
Inicia mal a meu ver. Classifica a  maneira como o autor Aguinaldo Silva resolveu dar vida às personagens dos atores citados acima como "ideologia do branqueamento". E por quê? O autor coloca a personagem de Lázaro Ramos – negro – como favelado e a de Débora Falabella – branca – como pertencente à classe média da zona sul do Rio de Janeiro. E, na visão do crítico, a personagem do favelado negro somente alcançará o tal status "se for embranquecido". Nas palavras do próprio Luiz, a "união com a jovem branca (...) traz subliminarmente esta mensagem".
 
Sinceramente, não sei se o autor do texto já teve acesso ao roteiro da novela. Porém, pelo que pude perceber é que ele parte de uma premissa já construída a priori e meio combalida por um prisma militante. Ora, pelo que li numa entrevista de Aguinaldo Silva no jornal, trata-se de uma história de amor entre pessoas de mundos distintos. Se assim for realmente ao longo da trama, Luiz Valério equivoca-se redondamente.
 
Luiz tem todo o direito de criticar o clichê da novela – jovem preto pobre com moça branca rica. Contudo apelar a idéias radicais para tanto, pode demonstrar um preconceito às avessas. Particularmente, também vejo a abordagem como batida. Mas da maneira como pretende o autor, não tem nada de ideologia de branqueamento. Trata-se de um história de amor, que reproduz-se  de uma forma ou de outra na vida real. Se terá algum efeito em seu público, tal como a diminuição do preconceito de cor, é outro assunto.
 
Ao que parece, Luiz Valério não se conforma mesmo é com o modelo sempre adotado quando as novelas ou minisséries pretendem falar da questão do preconceito. O negro na condição de pobre ou sensual e o branco, rico e disposto a desafiar tradições familiares e sociais.
 
Nesse caso, ele tem certa razão. Por que não pessoas de cores distintas, mas condições sociais semelhantes?, por exemplo. Contudo, ao meu ver, sua crítica se perde ao tentar introduzir conceitos para parecer bem aos olhos militantes.  Estes costumam ter visão limitada devido seu fervor quase religioso para lidar com as questões sociais.

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