quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Religiosos brasileiros querem um Estado teocrático?

Uma reportagem interessante saiu no jornal A Tribuna de ontem, daqui do ES. Tratava da viagem de uma comissão de pastores locais para Brasília, ao encontro de outros líderes religiosos evangélicos do Brasil, para se reunirem com senadores e deputados. O intuito do grupo evangélico era convencer os políticos optarem pelo veto à lei contra a discriminação de homossexuais.

A questão é delicada - sem trocadilhos...

Primeiro ponto a ser considerado. Tenho colegas homossexuais e quando os encontro, trato como todos os outros amigos heteros. Isso incluiu até troças, algo dentro da idéia de relações jocosas que estudamos em antropologia; faço brincadeiras ácidas, mas dentro de um limite criado pelo laço de amizade. Não se busca a ofensa. Assim mesmo nunca escondi das amizades homossexuais com as quais tenho liberdade de conversar qualquer assunto, o quão acho estranho isso de, digamos, "bate-bolas". Uma sensação de estranhamento natural dado o contexto no qual crescemos socialmente.

Estranhamento este que não nos permite diminuir as pessoas por causa de sua prefrência sexual. Algo ignorado por grande parte dos religiosos.

Voltando ao conteúdo da reportagem citada acima, algumas declarações dos líderes religiosos oferecem um exercício de qual mundo eles poderiam construir se estivessem no poder, com apoio da maioria. Abaixo uma declaração do pastor Ely Blunck, daqui de nossa capital:

" Com a aprovação dessa lei, será legalizado o ato da pedofilia. O projeto se refere à opção sexual, e pedofilia também é uma forma de opção. A sociedade não é obrigada a isso de forma natural (sic)."

Ely Bluncky é apresentador de um programa religioso local chamado "Desafios". Creio ainda existir, sempre aos sábados após o almoço - caso você seja tradicional e almoce entre as 12 e 13 horas. Entrevistava pessoas que davam seu testemunho, naquele formato habitual de "estava perdido e encontrei Jesus". No final ele aparecia em um vídeo clipe de gosto duvidoso, com canções idem e voz anasalada. Parei algumas vezes para analisar o conteúdo do negócio. Há muito tempo não vejo nem propaganda. Por isso tenho minhas dúvidas se ainda existe. Caso tenha acabado, falta nenhuma fará; semelhantes a ele, tem às dezenas pululando a televisão.

Mas não quero falar do programa do tal Ely, e sim de sua declaração. Conseguiu ser pior que o programa a quilômetros. Esse cidadão, no afã de defender seu ponto de vista baseado numa concepção religiosa, comete uma bobagem sem fim. Alguém tem de lembrar a esse pangaré de Jesus que pedofilia é antes de mais nada, crime. Homossexualismo só é crime em Estados teocráticos, quase primitivos, onde normalmente nem a mulher tem voz ativa.

Ora, se um vizinho for indelicado com minha mãe ou esposa eu tenho várias opções para tratar o assunto. Posso tentar resolver dialogando. Ou então posso decidir fazer igual a ele com sua esposa ou mãe. Também posso matá-lo. No entanto isso é crime, ainda que opção.

Apenas um bronco, bitolado por tradições religiosas, pode considerar uma alternativa de relacionamento entre pessoas do mesmo sexo, cientes de suas escolhas, igual a uma relação sexual entre um pervertido adulto e uma criança.

Outro representante dessa espécie de primata religioso soltou uma igualmente terrível. Segue as palavras do pastor Enoque, também daqui:

"São várias matérias que explicam os motivos pelos quais somos contrários à lei. Trata-se de uma condenação citada na própria bíblia(sic)."

Faça-me o favor! Quer usar seu livro divino para doutrinar seus fiéis em seus templos, tudo bem. Agora, vir evocar autoridade (?) bíblica para justificar o impedimento de uma lei dentro de um Estado laico, é loucura! Daqui a pouco vão exigir leis conforme o antigo testamento. Aí, haja chicote, pedrada e outros flagelos para a mulherada.

Questionar o conteúdo da lei é válido. Estamos numa democracia. Contudo apelar a conceitos religiosamente deformados ou considerados de inspiração divina é acinte.

O Estado é laico e não necessita de inspiração divina para resolver os problemas mundanos.

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