quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Petismo & reacionarismo: tudo a ver?

Seria motivo de alerta para os petistas? Somente nesta semana os próceres das mais altas esferas do PT deram mostra de que, raciocinando à moda religiosa-militante, o negócio é aproximar-se do reacionarismo direitista.

O presidente Lula, escrevi ontem, teve ataque explícito de reacionarismo ao dizer que estaria disposto a ajudar os cariocas a limpar a sujeira promovido pelos marginais.

Ontem o petismo confirmou mais uma vez que sua essência é bem diferente da imagem alardeada há décadas, ao firmar acordo com o PMDB – sempre acusado, não sem motivos, de simbolizar os vícios politiqueiros do Brasil – para disputarem juntinhos as eleições de 2010. Tão unidos a ponto da vice-presidência ficar a cargo dos peemedebistas e o plano de governo e a estratégia na eleição serem trabalhados em conjunto. No caso do vice, eu, fosse candidato petista, aceitaria qualquer um menos José Sarney. E justificaria: não creio em bruxas, mas que elas existem, existem.

Não bastasse esse comportamento digno do mais fedorento direitista, como pensaria – e gritaria – um militante “progreçista” contra os reacionários, leio hoje no Terra Magazine uma entrevista do deputado petista Antonio Carlos Biscaia, na qual o parlamentar deixa transparecer que não é a favor da liberalização das drogas. Ao menos se a medida for pensada regionalmente.

Para ele, a liberação, se ocorresse, deveria ser algo em escala mundial. Como isso não será possível, pelo menos nos próximos 100 anos, os “progreçistas” devem esquecer o apoio do digníssimo deputado à causa da liberação das drogas. Lula também já deixou claro que é contra. Além disso, reconhece a existência de áreas sob domínio dos criminosos – Estado paralelo? – e a atmosfera de total guerra civil. Isso é lá coisa que se fale deputado, logo após o milagre das olimpíadas?

Desse jeito, os religiosos esquerdistas acabarão tendo de correr para o colo de seu algoz, FHC. Ao menos ele é a favor da maconha livre, algo assim progressista...

Abaixo, alguns trechos da entrevista.

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Os indicadores sociais vem melhorando no Rio de Janeiro e no país nos últimos anos, mas apesar disso não há uma melhora nos índices de criminalidade e na violência da cidade. Esse quadro se agrava.
É evidente, porque você percebe a situação da topografia do Rio de Janeiro, e esses equívocos de muitos anos... São áreas sob controle absoluto da criminalidade. Esse enfrentamento é muito complicado. E vem também o componente político: alguns governos não querem enfrentar pelo desgaste que pode provocar nessas áreas com eleitores de comunidades carentes. Mas chega um momento em que não há mais condição: já é um clima de guerra civil. Enquanto o índice de homicídios por cada 100 mil habitantes decresce em muitas áreas do país, no Rio de Janeiro vem tendo um aumento crescente. Os índices são de 40 ou 50 por 100 mil habitantes. É guerra civil.

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E qual impacto essa violência crescente pode ter para as Olimpíadas de 2016?
Temos não só a Copa do Mundo de 2014, mas os Jogos de 2016. Com esse quadro vai ser difícil. Já tivemos os Jogos Pan-Americanos e o benefício para a cidade não apareceu. Houve um pequeno período de certa tranqulidade, com quatro mil homens da Força Nacional e de outras forças de segurança. Mas decorrido o prazo dos Jogos, a situação voltou ao que era e tem se agravado. O maior benefício que as Olimpíadas podem trazer para o Brasil, e para o Rio de Janeiro em particular, é que, a partir de agora, as condições sejam modificadas para que se tenha uma tranqulidade e que não seja apenas no período de realização dos Jogos.

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Não seria o caso de se trabalhar com a hipótese de legalizar as drogas, talvez algumas delas, ou pelo menos avançar nesse sentido, para combater a violência?
Eu não acho que esse seja o caminho, não. Você pode até debater o tema, mas a questão da descriminalização, da liberação, teria que ser tomada de forma global. Uma decisão da ONU (Organização das Nações Unidas), de todos os países. Se isso for tomado unilateralmente por um só país, vai ser destrutivo, porque esse país vai se tornar o foco do consumo. As experiências registradas em outros países, como Holanda e Suíça, demonstraram isso. E eles acabaram reformulando suas próprias políticas.

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