terça-feira, 13 de outubro de 2009

Olimpíadas no Brasil? Legal...

Fui um dos poucos brasileiros que não recebeu com ufanismo destrambelhado a notícia dos Jogos Olímpicos no país. Não se trata de falso ceticismo politiqueiro. Como praticante regular e amante dos esportes, minhas preocupações sempre foram outras. A principal delas, diz respeito ao descaso para com nossos atletas olímpicos em sua universalidade. Este sempre fora um problema crônico e ainda hoje, após conquistas inéditas e dignas de nota, como da equipe de ginástica, nos deparamos com vexames como o do caso da atleta Jade Barbosa.

É muito bom realizar um evento do porte dos jogos – principalmente para a politicada ter capital publicitário futuro –, os investimentos nas regiões que os receberão tendem a ser benéficos, se não para toda ao menos para uma parte significativa da sociedade, mas é bom atentar para os prós e contras de tal empreendimento. No caso do Pan em 2007, muitas instalações encontram-se quase às moscas, enquanto temos futuros talentos perdidos por falta de infra-estrutura adequada para desenvolvê-los.

Gostaria muito de ver os responsáveis pelo poder público investindo no esporte desde a tenra idade nas escolas. Mas um investimento real, visando os crescimentos físico, psicológico e social do atleta. Não bastam somente quadras esportivas – o que também não raro falta. É necessário um comprometimento amplo.

Um país com as dimensão e potencialidade do Brasil não pode se contentar em ser mero participante – e agora, anfitrião – dos jogos olímpicos, ganhador de algumas medalhas em modalidades previsíveis. Devemos e podemos ir muito mais além, estar na ponta da tabela. Para isto realizar-se teremos que ir além do ufanismo bocó em momentos específicos ou esforços abnegados de poucos.

Por fim, vale à pena ler a entrevista do ex-judoca Aurélio Miguel, no site Terra Magazine. Sintetiza bem o meu ceticismo para com os Jogos Olímpicos por aqui. Abaixo, posto alguns trechos.

Terra Magazine - Qual a importância dos Jogos para o Brasil? Como avalia a vitória do Rio de Janeiro?
Aurélio Miguel -
Eu vou avaliar como advogado do diabo: tem o lado positivo. Eu, como brasileiro... Eu não era favorável à Olimpíada aqui. Eu não sou favorável por falta de uma política nacional de esportes, onde haja investimentos diretos para os atletas, praças esportivas adequadas... Ontem, se não me engano, saiu uma foto do pessoal no Rio de Janeiro treinando em pistas inadequadas. Eu sou favorável, mas desde que tenha uma política nacional de esportes. Se não o que acontece? Só se faz para o evento; acabou o evento, acabou o esporte. O meu objetivo é, e sempre foi, fortalecer o esporte. Não porque eu vim do esporte. É porque eu sei a importância do esporte na vida do jovem, do adolescente, das crianças.

...

Mas será que o país vai reverter uma realidade esportiva acumulada há décadas em apenas sete anos?
Nós temos a experiência dos Jogos Pan-Americanos. Os anos que antecederam o Pan foram importantes para o esporte. E aí sempre se fala do legado que isso vai deixar. O país que pleiteia os Jogos Olímpicos não pode ter o descaso que está tendo, por exemplo, com o Complexo de Natação Maria Lenk. A própria confederação de natação queria fazer a Cidade da Natação aqui em Campinas, e tem lá pronto (no Rio de Janeiro) o Maria Lenk, que poderia ser um centro de referência, como tem na Austrália, nos Estados Unidos. Mas está lá abandonado. Ninguém cuida, virou um elefante branco. Os governos têm de saber que possuem a responsabilidade de administrar esses complexos futuramente. (tem de haver) Uma política nacional de esportes, não uma política momentânea de esportes. Aí eu sou contra. Outro aspecto que preocupa é quando dizem que vai custar tanto, e depois custa muitas vezes mais...

...

O quê?
A presidente (da confederação de ginástica olímpica) está querendo transferir a sede em Curitiba, esse centro de referência (da ginástica olímpica), lá para Sergipe. Isso é descabido. O que deveria ser feito? Continua esse que tá dando certo. Quer fazer outra unidade na região norte, nordeste do país? Ótimo, faça também. Mas deixe essa que está funcionando direitinho, que deu retorno e onde despontaram vários atletas.

Uma coisa não deveria excluir a outra...
Isso. É com isso que eu fico indignado como atleta. A falta de uma política. Se tá dando certo, deixa quieto onde tá dando certo. Quer abrir outro núcleo? Abre. Mas aí você vê que os estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro tinham equipamentos avaliados em cerca de R$ 2 milhões, que devem ter sido usados no Pan, e agora eles estão resgatando isso para um centro de excelência na própria Universidade. Quer dizer, estava parado! É um absurdo em um país que quer ter uma Olimpíada. É isso que deixa a gente indignado.

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