quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O reino da ignorância

Saiu no jornal A Gazeta, daqui do estado, uma matéria explosiva. Quer dizer, todo mundo já sabe, é só ver os resultados obtidos pelo Brasil nas avaliações feitas sobre educação em escala mundial. No entanto, não é todo dia que vem a público uma professora universitária desabafar sobre a "incapacidade gramatical" dos universitários.
 
A professora de Desenho Industrial do Centro de Artes da UFES, Sandra Medeiros, revelou que 80% dos alunos com os quais trabalha têm dificuldade com a leitura e a escrita. Mais: 30% cometem erros graves de ortografia e concordância. Para a docente, a culpa pode ser da escola, por negligência, ou do professor, por falta de capacidade para lidar com as mais diversas situações no momento do ensino. Sandra também chama a atenção para a visão imperante no país, nas últimas duas décadas, de que não se pode reprovar o aluno nas etapas fundamental e média de ensino, para não desencadear a baixa-estima e o abandono dos estudos. Ela crê na necessidade de se trabalhar o inverso: por meio da reprovação, estimular ao aluno superar-se.
 
Eu estou de acordo com o ponto da reprovação. Muito na esteira de pedagogias de oprimidos, da cultura de eternas vítimas presente no país, optou-se por trabalhar com a idéia da não necessidade de reprovação do aluno. O ápice do engodo foi alcançado no governo de FHC e sua progressão continuada, sua nova oportunidade de aprendizagem. Ao invés de cuidar dos problemas estruturais de nossa educação – escolas mais próximas de amontoados, sistema de educação público falido, professores mal remunerados e preparados, etc, etc, etc – optou-se, como é natural para um país acostumado a viver dentro de uma latrina, por maquiar a situação. Trabalho com contratação de estagiários e é normal presenciar erros ortográficos primais e brutais por parte da garotada. Mesmo entre os estudantes de ensino superior.
 
Voltando ao cerne do comentário, algo que me perturba é a nossa falta de traquejo com a língua mãe. Me incluo no bojo, pois o valor ao nosso idioma nunca foi algo muito considerado pelas escolas que passei. Hoje aprendo mais sozinho. Sei das minhas dificuldades com a gramática e procuro superá-las com muita leitura e algum estudo das normas – falta-me tempo para algo mais aprofundado no momento, porém estou me virando. Contudo, esta é a diferença entre mim e a grande parte de estudantes por aí: a consciência da limitação e o desejo de vencê-la. Já ouvi cada coisa sobre a real necessidade de aprendizado da língua portuguesa em sua essência mesmo elementar. Também entre colegas universitários e professores...
 
Muitos consideram um absurdo "perder" tempo com o "falar difícil". Toma-se por idéia que o falar difícil em destaque nada tem a ver com linguagem poética ou rebuscada. Unicamente tratar a língua como deve ser, utilizando a norma culta no dia-a-dia. Alguns te olham atravessado. Outros já te chamam de "intelectual". E tudo porque você resolve falar minimamente dentro das normas elementares, algo possível desde o mais miserável até o mais abastado. No entanto, por aqui isso é sinônimo de pedantismo.  Já vi professor em cursinho defendendo a utilização do linguajar coloquial em qualquer situação. Para ele, seria uma forma de inclusão... Ah, vá cultivar tubérculos (isso é pernosticismo)! Isso está mais para conformação e condescendência com preconceituosos que não crêem na capacidade de todo ser humano superar-se.
 
A professora Sandra Medeiros, igualmente confirmou a dificuldade dos acadêmicos de outros cursos com a gramática. Coisa muito comentada pela professora com a qual estudei recentemente a disciplina Monografia I, no curso de Ciências Sociais. Ela sempre nos chamou a atenção para os erros ortográficos – alguns absurdos – presentes em alguns projetos. Nesse quesito até fui bem, tendo apenas erros de digitação apontados.
 
Quando passei no vestibular, uma das primeiras coisas que imaginei foi a disciplina de língua portuguesa no primeiro período. Enfim, mesmo sendo cientista social, o sujeito tem de saber ler e escrever decentemente. Qual o quê! Se quiser tem de correr para a optativa do curso de Línguas – mesmo assim dizem que ele não é voltado para normas gramaticais e sim construção de textos ou algo semelhante.
 
Com isso forma-se profissionais até doutores capazes de barbaridades. Emir Sader, doutor no campo das Ciências Sociais – infelizmente – já foi pego várias vezes fazendo lambança com a nossa língua. Por coincidência, abro o site de professor Roberto Romano e encontro lá, em destaque no título de seu texto, "homosexualidade". Penso ser apenas mais um daqueles erros triviais de digitação. Porém, a realidade mostra-se cruel: em todo extenso texto o filósofo insiste em "homosexual" ao invés de homossexual. Solta até uma "heterosexual". O link é este: http://robertounicamp.blogspot.com/2007/12/homosexualidade-metafsica-e-morte.html.
 
Tudo isso me faz lembrar aquela velha discussão sobre cotas na universidade: o primordial é a base da educação. Do contrário, seremos uma nação de "incluídos" incultos.  
 
PS: como sempre, o texto vai de chofre, sem uma conferência abrangente. Caso encontre erros gramaticais, perdoe a minha "inguinorança".


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