Saiu no jornal A Gazeta, daqui do estado, uma matéria explosiva. Quer dizer, todo mundo já sabe, é só ver os resultados obtidos pelo Brasil nas avaliações feitas sobre educação em escala mundial. No entanto, não é todo dia que vem a público uma professora universitária desabafar sobre a "incapacidade gramatical" dos universitários.
A professora de Desenho Industrial do Centro de Artes da UFES, Sandra Medeiros, revelou que 80% dos alunos com os quais trabalha têm dificuldade com a leitura e a escrita. Mais: 30% cometem erros graves de ortografia e concordância. Para a docente, a culpa pode ser da escola, por negligência, ou do professor, por falta de capacidade para lidar com as mais diversas situações no momento do ensino. Sandra também chama a atenção para a visão imperante no país, nas últimas duas décadas, de que não se pode reprovar o aluno nas etapas fundamental e média de ensino, para não desencadear a baixa-estima e o abandono dos estudos. Ela crê na necessidade de se trabalhar o inverso: por meio da reprovação, estimular ao aluno superar-se.
Eu estou de acordo com o ponto da reprovação. Muito na esteira de pedagogias de oprimidos, da cultura de eternas vítimas presente no país, optou-se por trabalhar com a idéia da não necessidade de reprovação do aluno. O ápice do engodo foi alcançado no governo de FHC e sua progressão continuada, sua nova oportunidade de aprendizagem. Ao invés de cuidar dos problemas estruturais de nossa educação escolas mais próximas de amontoados, sistema de educação público falido, professores mal remunerados e preparados, etc, etc, etc optou-se, como é natural para um país acostumado a viver dentro de uma latrina, por maquiar a situação. Trabalho com contratação de estagiários e é normal presenciar erros ortográficos primais e brutais por parte da garotada. Mesmo entre os estudantes de ensino superior.
Voltando ao cerne do comentário, algo que me perturba é a nossa falta de traquejo com a língua mãe. Me incluo no bojo, pois o valor ao nosso idioma nunca foi algo muito considerado pelas escolas que passei. Hoje aprendo mais sozinho. Sei das minhas dificuldades com a gramática e procuro superá-las com muita leitura e algum estudo das normas falta-me tempo para algo mais aprofundado no momento, porém estou me virando. Contudo, esta é a diferença entre mim e a grande parte de estudantes por aí: a consciência da limitação e o desejo de vencê-la. Já ouvi cada coisa sobre a real necessidade de aprendizado da língua portuguesa em sua essência mesmo elementar. Também entre colegas universitários e professores...
Muitos consideram um absurdo "perder" tempo com o "falar difícil". Toma-se por idéia que o falar difícil em destaque nada tem a ver com linguagem poética ou rebuscada. Unicamente tratar a língua como deve ser, utilizando a norma culta no dia-a-dia. Alguns te olham atravessado. Outros já te chamam de "intelectual". E tudo porque você resolve falar minimamente dentro das normas elementares, algo possível desde o mais miserável até o mais abastado. No entanto, por aqui isso é sinônimo de pedantismo. Já vi professor em cursinho defendendo a utilização do linguajar coloquial em qualquer situação. Para ele, seria uma forma de inclusão... Ah, vá cultivar tubérculos (isso é pernosticismo)! Isso está mais para conformação e condescendência com preconceituosos que não crêem na capacidade de todo ser humano superar-se.
A professora Sandra Medeiros, igualmente confirmou a dificuldade dos acadêmicos de outros cursos com a gramática. Coisa muito comentada pela professora com a qual estudei recentemente a disciplina Monografia I, no curso de Ciências Sociais. Ela sempre nos chamou a atenção para os erros ortográficos alguns absurdos presentes em alguns projetos. Nesse quesito até fui bem, tendo apenas erros de digitação apontados.
Quando passei no vestibular, uma das primeiras coisas que imaginei foi a disciplina de língua portuguesa no primeiro período. Enfim, mesmo sendo cientista social, o sujeito tem de saber ler e escrever decentemente. Qual o quê! Se quiser tem de correr para a optativa do curso de Línguas mesmo assim dizem que ele não é voltado para normas gramaticais e sim construção de textos ou algo semelhante.
Com isso forma-se profissionais até doutores capazes de barbaridades. Emir Sader, doutor no campo das Ciências Sociais infelizmente já foi pego várias vezes fazendo lambança com a nossa língua. Por coincidência, abro o site de professor Roberto Romano e encontro lá, em destaque no título de seu texto, "homosexualidade". Penso ser apenas mais um daqueles erros triviais de digitação. Porém, a realidade mostra-se cruel: em todo extenso texto o filósofo insiste em "homosexual" ao invés de homossexual. Solta até uma "heterosexual". O link é este: http://robertounicamp.blogspot.com/2007/12/homosexualidade-metafsica-e-morte.html.
Tudo isso me faz lembrar aquela velha discussão sobre cotas na universidade: o primordial é a base da educação. Do contrário, seremos uma nação de "incluídos" incultos.
PS: como sempre, o texto vai de chofre, sem uma conferência abrangente. Caso encontre erros gramaticais, perdoe a minha "inguinorança".
Abra sua conta no Yahoo! Mail, o único sem limite de espaço para armazenamento!
Nenhum comentário:
Postar um comentário