quinta-feira, 2 de agosto de 2007

E agora? Quem poderá salvar a esquerda brasileira?

Dia desses, escrevi sobre a minha indisposição quanto a identificar-me com a esquerda, devido a forma dogmática como se comporta a maioria dos auto-intitulados esquerdistas e as idéias por eles defendidas - não raro, eivadas de contradições. Um artigo lido no site http://www.vermelho.org.br/ serviu para reforçar a minha distância aos "crentes" laicos da esquerda.

Elias Jabbour, doutorando e mestre em Geografia Humana pela FFLCH-USP, escreve um artigo sobre Cuba e repete toda a pantomima reinante no discurso da nossa esquerda arcaica - a que crê ser toda crítica às mazelas promovidas pelo comunismo no último século, resultado de mentes alienadas pela ação "pérfida" do imperialismo ianque. Deitando falação que empolga os revolucionários de corredor das federais, o nosso “quase-doutor”, solta esta:

"A deserção de atletas, assim como a rendição de militantes de esquerda a fotografias da realidade cubana, é expressão do aumento da pressão norte-americana."

Pronto! A culpa pela debandada de atletas da delegação cubana no último Pan, nada é relacionada com o regime imposto por dr. Castro. Tudo não passa de mais um plano sórdido dos EUA para desestabilizar a idílica morada dos cubanos no Caribe! Não existe privações, não existe olhares insatisfeitos, não existe facilidades para os pertencentes ao alto-escalão do governo. Absolutamente, nada disso. Somente a ação vil dos ianques...

Para o “quase-doutor”, a esquerda denunciando as mazelas existentes em Cuba – e por extensão, em qualquer outro país sob regime similar – nada mais é que uma manifestação de ignorância alicerçada em “uma falta de conhecimento da formação social cubana, mais o desconhecimento mínimo de como funciona o processo de acumulação tanto no capitalismo, quanto no socialismo.” Em suma, a demonstração de um olhar alienado, cheio de “vírus” do capitalismo. Sim, o “quase-doutor” também é “quase-gênio” e detentor da verdade. Como ele mesmo demonstra a cada linha escrita, está mais para falso-profeta.

Igualmente não poderia deixar de ser, o mestre “quase-doutor” faz uma análise ímpar e vê com naturalidade a escolha de Fidel e sua trupe pelo comunismo e alinhamento – leia-se dependência – com a URSS. Nada pesa contra a relação paternal dos comunistas europeus com os latinos, que culminou numa crise aguda para Cuba, quando da queda do socialismo real. Ademais, elenca pela infinita vez as “grandes” conquistas alcançadas pelo país caribenho. Indaga como pode um país comer mal e viver num patamar pouco higiênico e ainda assim estar sempre à frente do Brasil e do Canadá em disputas como a do Pan. Na mente iluminada desse “quase-doutor”, tal argumento isenta o regime de Fidel Castro das críticas.

Bem, pena ele não poder enaltecer tanto seu regime ditatorial dos sonhos quando o assunto é IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). O paraíso de Fidel, amado cegamente pelo autor, está em 50° lugar, atrás de países praticantes do tal capitalismo como a Coréia do Sul (26°), Barbados (31°), Singapura (25°), Luxemburgo (12°), para ficar entre os nanicos.

Contudo, o final apoteótico da manifestação religiosa do mestre “quase-doutor” pode ser medido pelas palavras abaixo, do tópico final de seu artigo:

“Em cada lócus surgiram grandes personalidades políticas, cuia integridade moral foi parte principal entre suas diversas qualidades. Na Rússia, o maior revolucionário de todos os tempos, Lênin; Na China com Mao Tsétung, Zhou Enlai e Deng Xiaoping, no Vietnã com Ho Chi Minh e o ex-professor de história, depois general Nguyen Vo Giap. Da península coreana, seu grande líder camponês, Kim Jong Il.”

É necessário ser extremamente ignaro ou mau-caráter para fazer apologia moral a Lênin, Mao Tse-tung ou Kim Jong Il. Estes personagens históricos, podem ser tudo, menos exemplos de integridade moral. Distorceram a realidade, mataram, escravizaram seu próprio povo em prol ideologias não raro sanguinárias. Então por que eles devem ter tratamento deificador, enquanto satanizam capitalistas tão arrivistas quanto?

Tal indignação seletiva é que não me permite compartilhar da visão de mundo dos nossos esquerdistas ortodoxos. Não posso ser a favor da verdade, da justiça e do equilíbrio social, defendendo uma visão de mundo como a exposta.

Mais: muito me preocupa saber que esse cidadão em breve terá seu título de doutor e possivelmente lecionará(?) em instituições de ensino em algum lugar do país. Espalhará sua pregação em sala de aula e, como um fundamentalista religioso, enfeitiçará a mente dos seus alunos, criando um exército de sectários, que repetirão tal qual papagaios o mesmo discurso pronto, indignado e distorcido de seu mestre. Assim terão a falsa sensação de seres superiores aos “alienados” pelo imperialismo, sem perceber quão igualmente escravizados são por uma falsa idéia de libertação e justiça.

O fino da ironia é ler o mote do site onde saiu publicado a estrovenga do futuro "dotô": a esquerda bem informada (!?). Quem salvará a esquerda no Brasil?

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