Andei lendo nos jornais locais os protestos e as denúncias do presidente de uma associação de vídeos locadoras aqui do ES. O cidadão lamenta da "concorrência" desleal proporcionado pelos vendedores ambulantes de CDs e DVDs. Obviamente, com o preço de um DVD saindo em média a R$ 2,50 centavos, poucos irão recorrer à locadora para alugar os últimos lançamentos; preferem um produto pirata, ao qual poderão recorrer quando quiserem ver o filme de novo sem precisar desembolsar para isso.
Além desse problema, o tal presidente da associação faz acusações gravíssimas contra os vendedores de produtos piratas. Segundo ele, crianças estão adquirindo DVDs de conteúdo pornográfico e assistindo às escondidas claro. Também afirma que tem muito malandro montando banca em porta de banco para facilitar a vida dos bandidos apontando quem sacou boa quantia de dinheiro em caixas eletrônicos. De acordo com o citado, foram contratados "espiões" para averiguar a ação dos vendedores ambulantes.
Bem se sabe que a pirataria é crime. No entanto a questão é muito mais profunda. A profusão de "pirateiros" vendendo filmes nas ruas das grandes cidades é um fenômeno que ultrapassa a barreira do legal; envolve, quer se queira ou não, o aspecto social e econômico. Os vendedores ambulantes não tomam a rua "por loucura ou por paixão", como diria o "engenheiro" Gessinger. Entendem na atividade uma forma de ganhar o "seu". E somente o fazem por encontrarem uma demanda enorme. E quem são os clientes?
Variam. Da janela de meu trabalho, vejo gente de toda espécie: de chinelo, engravatada, uniformizada, "engomada". Não são raras as vezes que avistei policiais, carteiros, advogados conhecidos e, sim, mesmo Fiscais de Tributos também conhecidos consumindo o filme "piratão". Em geral, todas essas pessoas acham um acinte ter de pagar 20 ou 30 vezes mais num produto que, afora colecionadores e aficionados, não terá grande utilidade após assistido uma ou duas vezes. Claro, mandam o aspecto moral às favas.
De minha parte, lamento por muitas locadoras estarem baixando as portas devido à concorrência desleal. No entanto, são coisas do capitalismo por mais que algumas almas idealistas digam o contrário. Sob sua égide, as pessoas são estimuladas a consumir mais e mais. Ao contrário de que muitos pensam, não sobrou muita coisa da "ética" protestante para salvar o "espírito" capitalista o trocadilho pode ser infame, mas é necessário.
Somos "programados" para consumir, porém não existe um selo após as propagandas alucinadas do tipo "é preciso ser honesto para consumir isso" ou "só aceitaremos o seu dinheiro se ele for fruto de seu trabalho digno". Logo, cada qual consume da forma que lhe é possível ou mais vantajoso. E isso, num país com a "cultura" do jeitinho como no Brasil, onde exemplos decentes nunca foram o forte das classes dominantes, acaba tornando-se regra de economia e "inclusão".
O assunto, obviamente, é prolífico para o debate. Alguns chegam a comparar os consumidores de DVDs e CDs piratas aos consumidores de drogas. Um exagero, certamente. No entanto, a ação da pirataria apenas deixou claro que um novo paradigma de consumo estava chegando. Dentro de mais alguns anos, nem mesmo vendedores ambulantes ganharão com a indústria de falsificação de filmes. À medida que as classes menos favorecidas tiverem acesso a computadores em suas casas, a tendência é o desaparecimento dos filmes, por exemplo sejam em DVD ou pelo novo formato blue Ray. Creio, no máximo, numa produção dos disquinhos para colecionadores, amantes do original como no meu caso.
Por fim, o que me estimulou este comentário, foi uma propaganda de "pré-venda" da FNAC via e-mail. Anunciava o novo cd de Madonna "Hard Candy" por míseros R$ 39,90!!! Aí, até mesmo colecionador deve ficar pensativo. Afinal, daqui a alguns meses, ele vai estar por aí a uns R$ 14,99, R$ 19,99 no máximo. Deixem os ricos, sem ter aonde gastar, dar seus dinheiros às "pobres" produtoras antecipadamente.
Pô, cd a R$ 39,00, não tem combate a pirataria que dê jeito!
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