quinta-feira, 8 de novembro de 2007

O oprimido

Sempre ouço e leio considerações acerca do oprimido. As vertentes são variadas. Algumas são puramente piedosas, outras insensíveis. No entanto, existe uma visão sobre a idéia de oprimido muito em voga entre intelectuais e artistas ditos progressistas. Especificamente, na ala mais radical destes.
 
Querendo-se humanistas, cometem desatinos. Ao criticarem acertadamente algumas ações do Estado entre as comunidades pobres, erram no método de análise. Falo do estranho hábito de colocar em uma mesma perspectiva pobre e criminosos pobres. Criam uma barafunda intelectual enorme e no fim das contas desaparece o crime. Afinal, tudo se justifica pela desigualdade social ao oprimido.
 
Ora, as nuanças para tratar a origem do crime são consideráveis. Logo, atrelar-se a uma apenas, em muitos casos cheira a desonestidade intelectual.
 
Essa ala progressista tem mania de justificar o crime pelo viés da opressão social. Se um bandido ataca alguém da classe média ou alta, explica-se pela ótica da desigualdade, da privação criada pelo sistema capitalista. E ponto. Já cansei de dizer: se isso fosse motivo único e mais importante, os ricos ou já não existiriam no Brasil ou estariam em bunkers chiques, tentando manter suas vidas e o resto de sua sofisticação por vezes exótica. O resto, como diriam os jovens de periferia adeptos as gírias, "é nóis".
 
A esse grupo que gosta de simplificar deliberadamente o debate por conveniência ideológica, eu diria o seguinte: o pobre realmente oprimido sou eu. Eu outros semelhantes.
 
Oprimido sou eu que saio cedo para o trabalho e após uma jornada de oito horas, ainda encaro a Universidade;
Oprimido sou eu que, ao lamentar com os professores, muitos da dita ala progressista, a falta de tempo para a leitura necessária dos textos, ouço deles genialidades do tipo: "ou trabalha ou estuda";
Oprimido sou eu que me desdobro para arrumar tempo para a esposa, as atividades acadêmicas e saber dos acontecimentos neste país ingrato, por fontes além do Jornal nacional;
Oprimido sou eu que, recusando-se trilhar o caminho fácil e trágico das atividades ilícitas, prefiro acreditar em dias melhores por meio do esforço próprio, sabendo da possibilidade existente de ser tudo praticamente em vão;
Oprimido sou eu que tenho de me esgueirar entre as arbitrariedades oficiais e os abusos dos que, sem esperança, não me reconhecem tão insatisfeito quanto eles, tão semelhantes a eles, apesar dos caminhos distintos.
 
Viver exige escolhas. E assumir conseqüências advindas delas.
 


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