terça-feira, 6 de novembro de 2007

A Era do Engodo

Nestes dias onde o mercado faz-se presente com ou sem proximidade do Estado, existe muita coisa a ser criticada. Não, não se trata de viés meramente ideológico, visando a destruição do maléfico capitalismo. Valendo-se do pressuposto de que a "vontade" dos indivíduos é soberana e nela norteia-se toda e estrutura mercadológica, nossos liberais empedernidos, agindo em pólo oposto aos religiosos comunistas, se ouriçam sempre que ouvem críticas aos métodos do capital.
 
No entanto o capitalismo nunca esteve isento de críticas. Não é pelo fato de profetas da escatologia secular – uau! – viverem apregoando a sua queda, bem como a dos EUA, e dando com os burros n'água, que o modus operandis sob a égide do mercado é algo maravilhoso. Vejamos o porquê de minha insatisfação.
 
Para os liberais utópicos, o Estado não deve imiscuir-se com operações do mercado. Suas imperfeições seriam resolvidas por meio das trocas entre dos indivíduos e suas preferências. Tudo muito belo. No entanto, assim como a sociedade não é o ente vivo praticamente autônomo, que nos induz crer o pensamento do sociólogo Émile Durkheim, o mercado está diretamente ligado a ação do indivíduo. E aí a coisa se torna muito mais complexa, pois não temos um indivíduo apenas no comando. Tanto quem age demandando como ofertando, faz segundo interesses. E não raro apela a artifícios um pouco, digamos, fora da "ética protestante" – só para lembrar outro pensador da sociologia, Max Weber.
 
Pois é. Não bastasse o escândalo do leite adulterado, temos outros casos importantes quando o assunto é a "ética" de alguns responsáveis pela oferta na roda-viva do mercado. Hoje estava lendo em um jornal impresso daqui do ES o embuste como elo entre aquilo propagandeado pelas empresas e o que é oferecido. A reportagem em questão versava sobre o pão de fôrma light, aquele nosso suposto aliado na hora de combater o excesso de peso. O INMETRO demonstrou por meio dos testes, o quanto somos ludibriados. São prometidos alimentos com uma determinada taxa de gordura e compramos por este motivo.
 
Contudo, a quantidade de gordura anunciada nunca está correta. Está sempre acima, fazendo com que o pão nada tenha de light. E ficamos como tolos, alimentando as esperanças vãs, conservando a pança indesejável e engordando os cofres dos empresários. Espere e verá o "ajuste" por si mesmo do mercado.
 
Quem me conhece sabe o quanto não sou entusiasta do Estado. Vejo-o como prova cabal da nossa incompetência de convivermos livres e decentemente entre nós. Mais uma pista de nossa (in)civilização. Se alcançaremos algum dia o grau de decência  necessária para resolvermos nossos problemas diretamente, não sei e tenho muitas dúvidas quanto a tal possibilidade, haja vista a miríade de "espertos" no planeta. Porém, enquanto esse dia não chega, o Estado tem de servir para alguma coisa. E ser avaliador das propagandas de mil e uma maravilhas oferecidas por capitalistas a todo instante, é o mínimo que o Leviatã deve fazer.
 
Certos produtos parecem milagres embalados. São promessas de uma nova vida, caso você aceite-o levar para casa. Quando você percebe o engodo, já está mais pobre e sem milagre algum manifesto. Por isso sou a favor de um controle rigoroso por parte do Estado – afinal, ele tem de fazer jus ao seu apetite arrecadador indecente – sobre as composições e fórmulas dos produtos e o que ele se propõe a realizar. Seja alimento ou máquina de fazer "tanquinho" abdominal, tem de ser testado e aprovado. Já temos engabeladores demais locupletando-se com os ganhos de nossos trabalhos.


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