segunda-feira, 10 de setembro de 2007

“Tropa de Elite”: um soco “ficcional” no estômago!

É, vi o filme brasileiro mais polêmico dos últimos tempos, sem exagero. Tudo em volta da obra parece agregar controvérsias e rancor. A começar pelo fato de já estar disponível antes mesmo de sua finalização, conforme disse seu diretor, José Padilha.

De minha parte, até baixá-lo via internet, não sabia de sua história. Apenas passei certo dia pela rua e vi exposto numa banca de vendedores ambulantes. Dei uma lida na capa e na sinopse, achei interessante e fui para a comunidade virtual - e única verdadeiramente "comunista" - acessar. Pensando ter baixado um filme que acabou de sair do cinema sem muito alarde, fui então procurar críticas pela internet. Somente aí tomei conhecimento da polêmica explosiva envolvendo a obra “Tropa de Elite”.

Segundo consta uma das versões sobre como o filme vazou pela net, deram a obra para um rapaz colocar a legenda e ele, atendendo a uma solicitação do próprio Wagner Moura, protagonista da película, lhe enviou uma cópia – e obviamente ficou com outra. Fato parecido deve ter ocorrido com o filme da Grande Família. Uma das versões desta obra estava sendo vendidas por camelôs com a inscrição na tela, “Cópia de Serviço”. No entanto não deu polêmica.

Quanto ao filme em si, é cru, rude. Claro, vários dos envolvidos dizem ser um misto de ficção com realidade, pendendo mais para a primeira. Contudo muitos perceberão qual é a real mensagem por trás do caráter “ficcional”.

“Tropa de Elite” trata do BOPE – Batalhão de Operações Especiais –, elite da polícia militar carioca. Trata dos dramas de um capitão que necessita sair da equipe por causa de sua família e precisa de um substituto à "altura". Trata do drama da população em meio à guerra do braço armado do Estado contra o braço armado – e não solicitado – da sociedade, o tráfico. Trata da realidade. Mas é “ficção”...

Dentro do BOPE “ficcional” do “Tropa de Elite, não há lugar para policial corrupto, mas há lugar para “soldados” de guerra urbana. Estes são treinados para matar. Afinal intervêm quando a polícia militar regular não tem mais controle sobre a situação. Quando tomam a dianteira da operação, inexiste meio termo: quem está do lado de lá é bandido e inimigo. Não importa se está diretamente envolvido com o tráfico ou se é jovem estudante burguês idealista e usuário de drogas ou conivente com a malandragem. O tratamento será o mesmo, apenas variando o nível de "aplicação".

Assim como o BOPE “ficcional” é truculento, o traficante “ficcional” é cruel. Não perdoa estudantes idealistas de classe média, que saem de seus apartamentos bem confortáveis para vivenciar a realidade áspera de favelas e periferias – claro, com horário de chegada e saída dos guetos. A lei implacável serve tanto para moradores e traficantes, como para estudantes ciosos por um mundo melhor. Caso provoquem a “anomia” na favela, mesmo indiretamente, serão culpados.

O BOPE “ficcional” também não é lugar de policial idealista. Este, mais dia menos dia, será transformado numa máquina fria de “limpar” a sociedade da escória que a degenera e a corrompe. Os caveiras - alcunha para os pertencentes ao grupo de elite - não devem ter piedade. Apenas consciência de seu dever “civilizacional” e “higienista”.

Mesmo sendo quase “pura” ficção, já estão falando por aí em censura ao filme por denegrir a imagem do BOPE “real”. Logo, imagino ser o batalhão de verdade um grupo de homens comprometidos com ações de duro impacto, mas com propósitos humanistas, né? Talvez até os traficantes ali retratos merecem ser ouvidos, pois as coisas não devem ser aquilo que parecem. Estudantes comprometidos com um “mundo melhor” igualmente devem abrir o bico, haja vista não serem nunca adeptos de relativismo tão vil como ali retratado no filme.

Trata-se de um filme de impacto e reflexivo, mesmo sendo apenas “ficção”. No entanto...

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