quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Esse Beck vale a pena

O último cd do Beck, Modern Guilt, está ótimo. Apesar de ter saído em meados de 2008, somente essa semana tomei conhecimento do mesmo fuçando num sebo – estou entre as poucas criaturas no mundo ainda consumidoras de cd... No entanto, mesmo com déficit temporal, me interessei por comentá-lo. Antes um resumo de minha relação com a música beckiana.


Conheci a música do cantor americano na segunda metade da década de 90, por intermédio de “Loser”, uma de suas mais conhecidas canções. Fiquei um tanto estranhado com aquelas esquisitices musicais presentes em seus discos Mellow Gold e Odelay, para em seguida tornar-me fã. Em seguida descobri, o suave e agradável Mutations e achei o meu preferido em Midnite Vultures. Se as pessoas não estivessem sob a égide de tempos tão fugazes, esta obra seria tocada até em aniversário de 15 anos – como medley dos Beatles – para que todos caíssem no hedonismo esclarecido. As letras do nanico são um achado.


Depois comprei Sea Change e devo dizer que não me empolguei. Até hoje tentei ouvi-lo algumas vezes, mas não obtive sucesso: Hipnos – e não seu filho, Morfeu – sempre trata de impedir-me. Guero e The Information vêm em seguida. O primeiro, considero misto de Odelay e Midnite... em dias de pouca inspiração de Beck. O outro, não ouvi ainda como deveria. Mas passemos ao ponto principal deste escrito, Modern Guilt.



Para início de conversa, o trabalho tem as mãos do produtor Danger Mouse, da dupla Gnarls Barkley. Somado a próprio Beck, a coisa seria no mínimo interessante. Contudo vai muito além.

A obra começa com “Orphans”, que com sua batida e atmosfera nos transmite aos anos 1960 e sua psicodélia. Uma boa canção e sinal do que será o disco.


Na sequência, a deliciosa “Gamma Ray”. Ritmo e clima sessentista permanecem, agora com mais balanço e energia contagiantes. Linha de baixo empolgante; bateria idem. A influência de Gnarls é mais que explícita: é como se a canção dos americanos “Going on” estivesse atravessado o portal do tempo, presente no clip homônimo, e caísse em plena celebração nos ímpares 60’s. Clássica em seu nascedouro!


A terceira música é “Chemtrails”. Clima meio intimista, andamento vagaroso, mas ainda com batidas poderosas. Beck brincando com suas qualidades vocais, sussurrando psicodélia.

“Modern Guilt” é o quarto número do mago. Inicia com bateria – apesar de não constar bateria nas informações; isso não pode ser uma programação! –, seguida por baixo e piano e alguns beats do Barkley. De certa forma o velho Beck faz-se presente aqui. É ele trazendo o passado e modelando-o conforme “Beck’s World”, e não fazendo a viagem nostálgica de alma – não é erro de digitação – e cuia das primeiras faixas.


A quinta música, “Youthless”, é o velho Beck encarnando. Andamento quebrado, programações eletrônicas, um baixão presença, bateria. A atmosfera sessentista já não é sentida como outrora.

“Walls” é Beck encarnado, obviamente sem a ousadia de Odelay ou Mellow Gold. A bateria comanda a festa. Na canção “Replica”, o clima ameniza. Programação eletrônica na jogada; andamento cadenciado. Para mim, destoa bastante da harmonia imperante no cd.


A oitava, “Soul of a Man”, tem guitarra, baixo, bateria – ou o que a valha –, piano elétrico, além de engenhocas eletrônicas. É um rock à lá Beck. Mantém o nível elevado do cd.


“Profanity Prayers” é mais um rockão beckiano, com a atmosfera sessentista novamente presente (não tanto como as primeiras). É ouvir e o desejo de balançar-se como se estivéssemos numa grande festa sem fim – ao contrário dessa bosta de vida – tomar conta dos espíritos abnegados. Ótimo para festas alternativas e curtir com boas doses etílicas na veia. Tão poderoso quanto “Gamma Ray”.


Finalizando o cd, temos “Volcano”. Apenas mediana. Lenta, destoa bastante do clima animado do disco. Não me faz a cabeça, definitivamente.


Infelizmente, não tive acesso às letras traduzidas do cd, à exceção da faixa título. Contudo, baseando-se nela e no histórico de letrista do artista, creio não ser motivo de preocupação para monoglotas como eu, que adoram música vinda do norte.


Compre, regrave, baixe. Afinal, *“Is all in our hands “ !


* “tudo está em nossas mãos”


ps: ainda não tive a oportunidade de ouvir o cd em casa, aconchegado. Os escritos aqui foram de súbito, ouvindo o cd pela segunda vez, após o expediente de trabalho, via um fone velho e “mutilado”, conectado numas caixinhas decrépitas. Mesmo assim, tudo soou muito bem...



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