segunda-feira, 3 de março de 2008

Sai Fidel... Mas fica

A notícia dos último dias foi a “renúncia” do ditador-presidente de Cuba, Fidel Castro. Explicando seus motivos, Castro entregou o poder mencionando não ser um homem apegado a este. Depois de 49 anos governando o país com mão de ferro. Como se vê, cara-de-pau não é exclusividade de políticos brasileiros. A história mundial os demonstra aos montes...

O ato foi motivo de certa algaravia na imprensa. Concentrando-se apenas em âmbito nacional, basta ler as reportagens de capa das revistas semanais brasileiras Carta Capital, Veja e Época. Os enfoques dados ao eventos são matizados de tal forma que, caso o sujeito não esteja suficientemente familiarizado com a polêmica ideológica em torno da figura de Fidel Castro, vai ficar um tanto desorientado; ora o homem é demônio, ora é santo, ora nem uma coisa ou outra. Isso sem falar no que é encontrado na rede mundial...

Particularmente não gosto de ditadores. Não me importa o seu matiz ideológico ou se está a favor do povo (sic). Quem não suporta viver sob a égide da liberdade, a meu ver, é inimigo do ser humano. E Castro não foi um amante da liberdade. Se num primeiro instante livrou os cubanos dos grilhões de Fulgêncio Batista, tratou de acorrenta-los novamente por acreditar deter o remédio para os males da humanidade. Um dos muitos erros dos tiranos de qualquer espectro ideológico.

Muitos defendem Fidel, apelando a supostas conquistas sociais em Cuba. Tal ponto, se discutido sobriamente, pode ser contestável. Existem registros indicando que os números apresentados pelos revolucionários sobre o PIB, o analfabetismo, a saúde, etc, durante o regime de Batista não demonstram a realidade da época. Mesmo não sendo favorável à maioria cubana, os dados podem ter sido inflados negativamente para benefício da propaganda revolucionária.

Sempre que debato com amigos sobre a questão esclareço que não importa o quanto ditadores podem ter sido “bons” à sociedade; serão sempre um mal. Ademais, muitos deles se horripilam quando falam da ditadura brasileira. Bem, no Brasil, durante esta e outras ditaduras como a de Getúlio Vargas, o trabalhador brasileiro recebeu garantias das quais, hoje, não abrem mão.

O Varguismo ofereceu salário mínimo, CLT, carteira profissional, férias remuneradas – um certo engodo na iniciativa privada, diga-se de passagem –, entre outros benefícios. Militares produziram o “milagre” econômico – depois revelou-se mais uma miragem –, criaram o FGTS, incluíram trabalhadores rurais, empregadas domésticas e autônomos na previdência. Vale ler o livro “Cidadania no Brasil – o longo caminho”, de José Murilo de Carvalho que trata destes e outros assuntos na formação da sociedade brasileira.

Nenhum trabalhador assalariado, numa sociedade como a nossa principalmente, abriria mão desses benefícios. E nem por isso, quem tem a cabeça no lugar, tecerá loas aos ditadores responsáveis pela criação deles.

Por isso, vejo com bons olhos a saída de Fidel – ainda que sua sombra se faça presente e influente. Pode ser o prenúncio de novos dias para os cubanos. Para que sejam também melhores, os cidadãos de Cuba devem ter coragem de lutar por eles.

Nenhum comentário:

Powered By Blogger