quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

A indignação seletiva no Brasil

Nas últimas semanas a imprensa tem publicado diversas informações sobre políticos em posição de destaque na Câmara e Senado. Algumas polêmicas.

Um caso foi sobre o “deputado-rei” e corregedor da Câmara Edmar Moreira. Após entrevistas onde foi acusado de corporativismo, diversas outras denúncias surgiram contra o deputado, como fraude na previdência e por não ter declarado a posse de um castelo à justiça eleitoral. Pressionado, o parlamentar está sendo “convidado” a sair do DEM, partido ao qual é(?) filiado – já passou por meia dúzia de partidos –, além de correr o risco de perder o mandato. Tudo isto foi devidamente exposto na imprensa com destaque.

Outra notícia, que considero até mais escandalosa, diz respeito ao senador José Sarney, o recém-eleito presidente da casa. Segundo noticiado pelo jornal Folha de São Paulo, o ilustre acadêmico das letras foi pego com a boca no fone pela PF, aconselhando seu filho a usar a emissora de televisão da família para atacar o adversário político Jackson Lago.

Tudo muito bom, tudo muito bem caso não fosse uma detalhe capaz de causar toda a diferença e em países com alguma vergonha na cara, um chute no traseiro do infrator:concessão pública na mão de político é afronta à lei. Porém onde está a insatisfação da sociedade quanto a isso? Não se sabe. Na realidade, a maioria, letrada ou iletrada, não sabe que concessão pública na mão de político é crime – apesar da constituição tratar o assunto de forma pouca claro, na opinião de alguns.

Para complementar, “estranhamente” a mídia não faz alarde. Noticia aqui e ali e mais nada. Como bem tratou Alberto Dines no Observatório da Imprensa, talvez pelo fato do império de Sarney não ter castelo para ilustrar primeira página dos jornais ou deslumbrar o telespectador no noticiário das 08, não foi interessante continuar a denúncia. Ou pelo fato de o senador ser um dinossauro e não uma lagartixa como o deputado.

Farra de concessões públicas não é algo novo e muito menos exclusivo dos Sarney. É coisa antiga e são muitos os coronéis eletrônicos por esse Brasil afora. Foi apenas emblemático. Mostra o quanto vivemos ainda num obscuro poço cultural, político e social, a despeito da economia de 1° mundo, cantada aos quatro ventos por otimistas incautos ou de profissão.

Se fôssemos uma nação realmente séria, o presidente Lula não ficaria numa posição de quase lambe-botas de alguém como Sarney, muito criticado por ele no passado com boa dose de motivos. Menos ainda estaria gozando de uma popularidade nas alturas após as politicagens do seu partido e apoio do próprio a gente como Sarney.

Mas se tiver castelo ou uma mansão suntuosa na jogada, dependendo de quem for o dono, o bicho pega. Imprensa alardeia e o povo se ouriça.

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