sábado, 17 de maio de 2008

Raposa do Sol e o mito do “bom selvagem =94?=

A "rabuda" da Raposa do Sol – infame associação! –, em Roraima, na qual se meteu o governo está rendendo, como era de se esperar. Após homologar a demarcação contínua da reserva indígena, o debate foi radicalizado.
 
Existem aqueles contra a idéia de encerrar os índios em uma área tão extensa, expulsando quem não for indígena. Preferem as coisas como estão: os territórios indígenas em "ilhas". Outros acreditam ser justa a demarcação total da área apenas para os índios, após estudos antropológicos comprovando que a o território deve ser entregue aos indígenas.
 
A questão é delicada, muito delicada.
 
Por mais que certa corrente do pensamento esteja preocupada em manter a identidade dos índios, não há como negar o quanto os indivíduos autóctones daquela região já estão inseridos no universo do chamado "homem-branco". Basta ouvir a forma de expressar-se dos índios que defendem o território exclusivo. Citam com desenvoltura artigos da constituição do país, mostram-se esclarecidos quanto ao imbróglio, valendo-se mesmo de termos jurídicos. Estão muito mais para cidadãos modernos do que para silvícolas, como parece querer certos antropólogos apaixonados.
 
Outro aspecto diz respeito aos "defensores" dos índios. Além dos estudiosos tradicionais, igreja e ongs estão entre os que ainda sonham com o mito do "bom-selvagem". Contudo, há organizações ligadas a instituições estrangeiras, recebendo dinheiro de fora para lutar pela "causa". Acontece que a região não é uma "selva" de tribos adeptas do escambo. Mesmo conservando hábitos tradicionais, grande parte dos indígenas olha para a terra sabendo do lucro que ela pode gerar, algo aprendido com o homem branco.
 
Pedras preciosas, ouro, gados, agricultura. Tudo está lá, em Raposa do Sol e dificilmente lá permanecerá, fazendo parte das "entranhas" da mãe-terra. Para se ter uma idéia, já existe ong ensinando aos indígenas técnicas de mineração – algo proibido na região. Ao se fechar Raposa do Sol ao "homem branco", ela não estará fechada para ongs – estrangeiras inclusive – e igrejas. E definitivamente, estas instituições não são constituídas exclusivamente por gente cheia de pureza em atos e pensamentos.  
 
Vários são os fatores para não abraçar a idéia de demarcação contínua como algo positivo e de direito aos índios: a expulsão do "homem branco" presente na região, confundindo trabalhador, produtor com explorador, sem levar em conta o tempo de presença, além da legalidade de suas atividades; o olhar condescendente de outra parte dos indígenas para com não-índios, entendendo ser perfeitamente possível a convivência com eles; a falta de credibilidade definitiva de laudos antropológicos usados para a homologação da terra indígena.
 
Definitivamente, exploradores devem ser varridos do mapa; agricultores que apelam à violência devem ser submetidos à justiça. Mas esse desejo de preservar o mito de "bom selvagem" – que é o que norteia, sim, no fim das contas muitos estudos –, precisa ser superado. O índio pode ser cidadão brasileiro, ainda que conservando seus costumes e tradições.
 
 


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