terça-feira, 20 de maio de 2008

Envelhecendo na cidade

Todo o dia parece ser enfadonhamente o mesmo. Acordo trôpego, "já deitado" como diria a canção dos "Hermanos". Desejo sempre continuar grudado à cama após mais uma noite curta de sono – que nos fins de semana é praticamente trocada pelas manhãs, pois amo a madrugada.
 
Durante a semana é aquela rotina lancinante. Partir da periferia para o Centro – literalmente, Centro de Vitória, a capital –, pode levar alguns minutos como 30, 40 deles, preso num engarrafamento estúpido de 200 metros, por culpa da falta de estratégia de nossos governantes.
 
Para quem mora em ninhos de serpente como São Paulo ou mesmo tem de cortar dois, três municípios aqui da Grande Vitória para chegar ao trabalho – tarefa cumprida por boa parte dos capixabas – pode parecer que estou reclamando de barriga cheia. Afinal, o que são 40 minutos de viagem ao trabalho perto de 1:30 h ou 2 horas?
 
Concordo. Mas não tenho culpa de manter essa relação com o Centro da capital praticamente desde quando nasci. Se colocar na equação os anos no ventre de minha mãe, que trabalhou boa parte de sua vida também no Centro, lá se vão 32 anos de relação com a capital de meu Estado!
 
Desde muito cedo acompanhei minha mãe, solteira e prestadora de serviços domésticos. Não raro passávamos todos os dias úteis da semana na casa dos patrões dela, retornando ao lar na sexta à noite. "Morava" 5 dias da semana na "cidade" – como muitos por aqui acostumaram-se a tratar o Centro da capital – e por lá estudava.
 
Esse relacionamento contínuo foi interrompido quando terminei a 4ª série e, pela 1ª vez, passei a estudar num bairro vizinho ao meu. Minha mãe conseguira um emprego no Estado, bem no centro do poder: o Palácio Anchieta, antiga sede do governo. Fiquei um quase ano fora da "cidade". Nessa época, minha "relação" com o Centro tornou-se mais distante.
 
Contudo, não demorou muito para retornarmos à intensidade de "nossa" relação. Voltei a estudar na "cidade", num colégio público tradicional, "Maria Ortiz". Idéia da mamãe: ficava atrás do Palácio. Melhor, continua lá, no mesmo lugar. E a rotina era colégio e corredores do poder após a aula.
 
Tempo passa e vem o 1° estágio. Onde? No Centro de Vitória, a poucos metros tanto do Palácio como do colégio. E assim passaram os dias, anos rompendo as barreiras sem dar trelas às nossas agruras para com o tempo. Do estágio para o emprego, tudo no mesmo lugar.
 
Há alguns anos veio a Universidade, que se não é no Centro de Vitória, me obriga a sair dele no início da noite, para me locomover por mais quarenta minutos a um outro ponto da Capital. E por ele tenho de passar novamente durante o retorno para a casa. À medida que o ônibus – sim, velho "parceiro", com o qual já não tenho muita paciência – deixa o bairro de classe média onde está localizada a Universidade, ultrapassa a "companheira" cidade e volta à periferia, vejo-me em muitos cantos pelo caminho. Prédios, lojas, bancos, ruas... partes de minha história em fragmentos. Ou seria eu parte deles? Talvez Marx explicaria.
 
E tudo parece tão tranqüilo à noite. As luzes artificiais parecem trazer uma suavidade para o velho Centro, que em nada lembra a vida caótica durante o dia. Fico a me indagar se seria isso apenas uma falsa sensação – violada a cada manhã – ou a real essência da "cidade"...


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