segunda-feira, 30 de março de 2009

SUS, patrimônio da humanidade? Sei...

Outro dia li uma ideia exótica animando a todos brasileiros para dar o título ao SUS de patrimônio da humanidade. Pensei comigo: baseado em que nasceu tal desejo? Como eleger algo patrimônio, ainda que simbólico, da humanidade, se não pertence nem a nós, brasileiros? Sim, porque, talvez se ficasse aos cuidados da sociedade ao contrário do Estado, a coisa funcionasse mais a contento e humanamente.


Vejo muita gente elogiando o SUS enquanto conceito e mesmo por ter alcançado algumas conquistas em diversas áreas da saúde. Até aí tudo bem. Problema é já querer elevar uma ideia a exemplo para toda humanidade, quando no mundo real encontramos muitas deficiências no sistema. E o SUS apresenta um emaranhado de problemas...


Não pago plano de saúde. Quando tenho de apelar a consultas, se posso, dirijo-me a iniciativa privada. Nem sempre é possível, como hoje. Necessitei extrair um abscesso e fui até um dos hospitais sob a égide do “conceito” de SUS. Não é nada agradável, definitivamente.


Logo de início, você tem de enfrentar uma fila, invariavelmente longa. A não ser que seu estado de saúde seja delicado ao extremo, você deverá esperar a sua vez. Com dor ou sem ela, aguarde. Da fila, observava como o povo se assemelha a gado também quando precisa tratar de sua saúde. Pessoas simples, em sua maioria, chegam a todo instante. Às vezes amparadas por um amigo ou familiar, às vezes só.


Os atendentes, não raro, mostram-se insatisfeitos para ouvir o povo. Não os culpo, afinal, trabalhar com recursos limitados para demandas ilimitadas, é tarefa árdua. Porém, os usuários não podem ser responsabilizados pela incapacidade administrativa de nossa saúde, seja ela municipal, estadual ou federal.


Se é difícil o encaminhamento para conseguir ser atendido, imagine o atendimento em si? Passando pelos corredores, repletos de macas e semelhantes nos mais diversos – e lastimáveis – estados, cheguei no local que precisava. Apenas duas pessoas à minha frente, aguardando para serem atendidas também. Corredor dos nossos hospitais, sob a égide do “conceito” de SUS, ao menos aqui na Grande Vitória, quase sempre são igualmente deprimentes.


Fiquei à espera de atendimento por quase 03 horas. Agradeci aos céus por não estar sofrendo de dor, como um pobre motoboy imobilizado numa maca, sem previsão para atendimento. Os dois ortopedistas tiveram que ir às pressas para a sala de cirurgia, atender uma senhora com fratura exposta. Quem necessitava deles ao menos nas próximas 06 horas, conforme informou o atendente, deveria voltar mais tarde ou no dia seguinte.


Mas o brasileiro é um guerreiro, se divertindo mesmo em meio ao descalabro. Durante o tempo em que fiquei aguardando, ouvia as mais diversas histórias, envolvendo outras desventuras pelos hospitais públicos da vida, muitas seguidas por um bom humor capaz de nos aliviar em meio aquela atmosfera densa.


Chegou minha vez. Fui até a sala de pequenas cirurgias. Nada requintada, como era de se esperar. Móveis e aparelhos já gastos pelo tempo, mas que aparentam ao menos funcionar. Um médico e uma equipe até bem humorados, algo nem sempre possível de se encontrar em meio ao clima tenso que parece reinar entre nós, pacientes impacientes, e eles, profissionais de uma área com problemas diversos.


Minha microcirurgia foi rápida e sem contratempos. Me despedi da equipe e no corredor, dos meus “companheiros” fugazes de espera. Faço o mesmo percurso até a saída. Uma senhora fazia suas refeições sobre uma maca, num vasilhame trazido provavelmente por um parente ou conhecido. Lembro-me da história do SUS como patrimônio da humanidade. Bom seria antes ser patrimônio de nós brasileiros, tendo o respeito como base para que todos fossem alcançados universalmente com dignidade.

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