segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

“Lula está salvando o capitalismo”

Para um liberal, a frase em epígrafe soa como uma blasfêmia. O autor foi o deputado federal Delfim Neto, ex-ministro nos tempos da ditadura militar no Brasil, no programa Canal Livre de ontem, transmitido pela Band. Ele falava sobre a administração de Lula na área social e seus impactos positivos na área econômica.

É curioso perceber o quanto a política tem suas peculiaridades. Delfim, antes amaldiçoado por grande parte das esquerdas, hoje goza de “conselheiro” de Lula. Para o deputado, o presidente e seu partido representam a social-democracia que o PSDB não conseguiu ser. Ainda que Maquiavel esteja sempre envolvido em polêmica por causa de sua obra “O Príncipe” - afinal é um manual para governantes ou simples descrição da essência política? –, pode-se perceber o quanto foi importante para entendermos certas ações no ambiente político.

No entanto, volto ao início. Delfim Neto falava sobre o efeito positivo dos programas sociais no governo Lula e o quanto os liberais se equivocam quanto aos seus sonhos de um mercado livre, leve e solto no Brasil.

Bem, quanto aos benefícios sociais sob a égide da administração petista, nada falarei por enquanto. Interessa-me é comentar a fala do ex-ministro quando ele discorre sobre o efeito das políticas excludentes na América Latina. Delfim vê a revoada esquerdista pró-Estado na região como um efeito dos anos deletérios das classes dominantes na AL. Faz até pilhéria ao comentar a eleição de Evo Morales na Bolívia: foi graças ao esquecimento do índio por parte das oligarquias bolivianas. Nada mais sensato.

Em minhas conversas sobre gente como Chávez, sempre disse que boa parcela da culpa de governantes como ele serem eleitos, dá-se por conta de governos anteriores nunca terem agido com a maioria da forma necessária. Grande parte dos governos na América Latina sempre optou pelo descaso com o dito povão. Um dia a conta ia ser cobrada. É daí que surgem Chávez, Morales e outros escandalosos. E aí também está a origem da tolerância com ações corruptas dentro de certas administrações – como a de Lula. É lição básica em história: a maioria é acuada; quando surge uma voz carismática, voltada para os acuados, fica claro o que acontece.

Não adianta, por mais modernidade que o capitalismo possa oferecer, desejar um modelo de total liberdade mercadológica dentro de uma sociedade desequilibrada social e economicamente como a brasileira. Os ajustes são estruturais e demandam séculos para efetivação. E, com as classes política e dominante instaladas por aqui, infelizmente isso não acontecerá sem passar pelo o crivo do Estado.

Para mim, admirador de um ideal anarquista de liberdade, é preciso ter os pés no chão. O ser humano dificilmente conseguirá viver sem o Estado ou sem a religião. Em resumo: sempre optará por ser dependente.

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